Há muitos anos venho denunciando as contradições de nossa sociedade com relação ao Natal. Em nenhum outro momento, a corrida desenfreada pelos bens materiais nega frontalmente os preceitos cristãos. Impossível que todos sejam envolvidos pelo que passou a se denominar "espírito natalino", com um entusiasmo que beira o ridículo, a insensatez. Na condição de um pensador que se libertou do homo religiosus (pensado por um Erich Fromm, por exemplo), concomitantemente com a libertação do homo consumens (classificação moderna), não consigo segurar meu espírito crítico. Em respeito aos meus parentes, amigos e conhecidos, procuro tergiversar sobre esse assunto que domina todos os corações e mentes. Concordo que o Natal é uma ocasião excelente para a família se reencontrar, os amigos se reencontrarem... Mas isso não exclui a viabilidade de haver encontros noutras datas, uma vez a cada mês, a cada fim de semana, todos os dias. O consenso de que Natal é reencontro inplica em reconhecer (em primeiro lugar) a laicização de uma festa que era para ser religiosa, (em segundo) a correria em que se tornou a vida das pessoas, (em terceiro) a má consciência de que não ocorreram reaproximações durante o ano, algumas vezes impedidas que foram por mágoa, raiva, enfim, um sentimento contrário a uma conduta cristã. No lugar do "espírito natalino", coloco como mais importante a doçura, o bem-querer, sem data marcada para se manifestar, sem esses atropelos consumistas, incluindo comilanças e beberagens. A boa consciência, todavia, não me impede de viver um dilema: participar da festa ou ficar na minha.
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