“A
maioria das pessoas deste mundo
acredita
que o Criador do universo
escreveu
um livro”
Sam
Harris
A Bíblia é a palavra revelada – afirma a doutrina e
acredita piamente todos os cristãos. O pressuposto é que houve um texto
original ditado por Deus. A propósito, essa autoria transcendente caracteriza
outros escritos religiosos e afins: Corão, Livro dos Mórmons, Livro dos
Espíritos, entre outros.
A crença é de que as diversas traduções dos textos
originais, sua reescritura, acréscimos e cortes não comprometem a autenticidade
da Bíblia. Destarte, existem atualmente pelo menos três versões diferentes: a
Bíblia católica, a Bíblia evangélica e a Bíblia ortodoxa. As divergências de
forma e conteúdo, todavia, são insuficientes para abalar o dogmatismo cristão.
Ao longo dos primeiros séculos da Igreja Católica, as
chamadas guerras santas foram sangrentas, com perseguições e execuções fratricidas,
tudo pela injunção de um texto único, com uma interpretação convergente. Jesus
é mais humano? Mais divino? Humano e divino ao mesmo tempo? Há outras
possibilidades, como a compreendida pelos judeus, de que Jesus não era o
Messias, ou a de alguns estudiosos sérios, que asseguram a não existência
histórica de Jesus.
A discussão não tem fim, malgrado a inadmissibilidade
para o mundo cristão e a irrelevância para outros mundos.
Ainda sobre a Bíblia, a edição evangélica, por exemplo,
soma 66 livros, 1.189 capítulos e 31.103 versículos. Esses números são
diferentes das demais bíblias. Se a versão primeira foi ditada por Deus, quem
autorizou a supressão de 12 livros em relação à bíblia ortodoxa (mais antiga,
mais próxima da origem)? Os textos suprimidos não se configuram uma afronta ao
seu autor (que era bastante irado no princípio)?
Por
que os pregadores escolhem certos versículos e evitam outros? Por um lado, a fé
é superestimada num contexto imaginário de adoração extrema. Por outro, nenhuma
referência à obra coerente com os preceitos bíblicos.
No dia a dia, fora do templo, a vida de muitos cristãos é
de uma indisfarçável hipocrisia. Basta apenas o versículo 24, capítulo sexto de
Mateus, para escancarar a contradição: “Ninguém pode servir a dois senhores;
porque, ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e
desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.
Obviamente, esse versículo nunca é citado pelos astutos
propaladores da palavra. Ele nega frontalmente a doutrina da prosperidade, nega
a conduta real da maioria cristã, ávida por dinheiro.