sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ASAS DA POESIA


Num dos textos inspiradíssimos que escrevi, imaginei como sendo o primeiro poeta entre os homens aquele que, levantando-se mais cedo de seu sítio, contemplou o Sol nascer. Quando servi em Coimbra, no coração do Pantanal, escolhia o período das 4 às 6 horas para fazer a ronda. Duas a três vezes por mês, subia o morro e, recostado às muralhas do forte, esperava o momento sublime em que a claridade delineava os cortornos longínquos da Serra da Bodoquena, para, em seguida, ver o astro lançar seus primeiros raios luminosos nas águas do rio. Esses instantes de contemplação, reconheço agora, foram possíveis graças a minha propensão natural para a poesia, para a estética, para algo que me faz abrir a janela esta noite e permitir a entrada do vento. Não encontro palavras para descrever a cortina voando alto, como uma grande asa presa à parede da sala. Não as disponho, tampouco, para dizer da sensação agradabilíssima que experimento ao sentir minha fronte, meus braços e meu tronco serem envolvidos por lufadas frescas. Há uma outra asa presa dentro de mim (pássaro disforme).

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