Outra vez convidado pela direção do Lucas Araújo de Oliveira, compareci ao colégio esta manhã. Com a intermediação da professora Viviane, de Língua Portuguesa, fui apresentado às turmas de oitava série para falar-lhes sobre leitura e escrita. O auditório do colégio fica na mesma sala em que estudei em 1973, na inesquecível turma 6/6. No próximo ano, a sala passou a abrigar a biblioteca, quando e onde comecei a ler regularmente. Também jogava xadrez com o professor Albino Lampert, Ivan Zolin, Frederico Ritter, entre ontros. Certa manhã de primavera, nesse recanto quase encantado da escola, senti a primeira emoção do amor, ao encontrar os olhos igualmente tímidos de Emília. No auditório, há um quadro enorme, representando o Pôr-do-Sol no Guaíba, que pintei para um desfile do colégio (postado acima). Para ilustrar minha fala, mostrei slides sobre a Rua dos Poetas (seus homenageados), alguns dos meus poemas, curiosidades da Língua Portuguesa e recitei alguns sonetos no final. Os alunos me perguntaram quando comecei a escrever. A resposta está na ponta da língua: o maior benefício da leitura, o mais extraordinário, consiste nessa necessidade de expressão pessoal. O conhecimento exige a ponte da escrita, a interlocução, a troca de enunciado. A individualidade só faz sentido na alteridade. Obviamente, disse isso com outras palavras. No final, os alunos me mostraram seus trabalhos literários. Saí de lá com um ótimo astral.
Um comentário:
Froilam!
Aquela turma 6/6 é única, na acepção da palavra. Hoje distante observo as contradições e as semelhanças daquele grupo. Um estudo sociológico, antropológico daqueles momentos e naquele tempo daria boas reflexões sobre a vida humana.
Como somos limitados, nossa consciência não é absoluta e sim relativa, hoje passados alguns tempo posso analisar os momentos importantes que passaram, mas naqueles tempos era impossível, assim como agora sou "rebanho" seguindo para "o matadouro". Talvez como diga Alberto Camus, no início do livro “O Mito de Sísifo”, que o maior problema filosófico é o “suicídio”, no meu entendimento a decisão de escolher a vida, no sentido que fala Nietzsche, “vontade de potência”. Compreender o instante é apreender o Ser, e isso é para um super-homem. Quando penso e constato minhas limitações valorizo "os grandes homens" que no momento de sua existência souberam compreender a importância e tiveram gestos nobres. É o "alea jacta est", o lançar-se no mundo o "Existenz" como fala Heidegger como uma das atribuições do "Dasein".
A nossa turma com suas diferenças possibilitou gerar o novo, este só ocorre na diversidade, os iguais não possuem este poder. O mesmo que une é o que separa esta é visão lembra o mundo oriental. Tem um poema de Fernando Pessoa que há alguma referência a essa idéia: “não só quem nos ....oprime mas quem nos ama....” (procurei o poema mas não encontrei). A idéia que quem nos ama também nos oprime.
A turma 6/6 até na sua grafia de dois seis (6/6) mostra esta dicotomia, e sua riqueza esta nisso.
Bons tempos aqueles em que alguns acreditavam que o Brasil era do “ame ou deixe-o”. E eu pensava que estava sendo original ao buscar no estudo a forma de redenção social, no entanto estava expressando o êxodo rural do Brasil dos anos setenta.
Zolin
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