segunda-feira, 4 de outubro de 2021

A GLÓRIA OU A MORTE

Uma tempestade matou cinco alpinistas no monte Elbrus, no Cáucaso russo, nesta sexta-feira.

       Gostaria de estar na companhia de amigos, para pensarmos juntos o paradoxo existencial referido de uma forma transversal pela notícia acima.

       Sozinho neste apartamento, começo a análise de uma forma dialética, hegeliana.

       Qual seria a tese?

   O homem desafia a natureza, para satisfazer seu espírito aventureiro, a praticar esportes de alto risco de vida. Ao lado do alpinismo, há o paraquedismo, o wing walking (equilibrar-se sobre as asas de um avião), o esqui off-trail (descer montanhas no esqui), rafting (descida em corredeiras dentro de botes), montaria de touro, entre outros.

       Qual seria a antítese?

       A morte, simplesmente.

       Para não me afastar do mote inicial, o alpinismo, mais de 300 pessoas já morreram a escalar o Everest, o pico mais alto do planeta. Altura, frio, vento, falta de oxigênio e exaustão física são algumas das causas que se opõem ao objetivo da aventura.

       O homem deixará de se aventurar, mesmo consciente de que corre risco de vida? Sua vida deixa de ter sentido sem a prática desses esportes chamados radicais? A liberdade para fazer escolhas perigosas constitui um bem?

       Qual seria a síntese? 

CANANÉIA

    Cananéia é o município mais meridional do estado de São Paulo, cuja sede dista 265 km da capital paulista. A vila de Maratayama (hoje Cananéia) fora visitada por Martim Afonso de Sousa em 1531, antes da fundação de São Vicente em 1532, oficialmente a povoação mais antiga do Brasil. Na falta de documentação comprobatória da precedência efetiva, Cananéia ficou sem essa honraria histórica.

        No centro velho de Cananéia, as casas ainda conservam o estilo arquitetônico do período colonial. As ruas são muito estreitas, dando passagem a apenas um automóvel. A avenida Beira Mar é a mais movimentada, com restaurantes, bares, pizzarias e vendedores informais, que atendem os turistas de final de semana. Rampas e escadarias dão acesso ao cais de onde zarpa a balsa para Ilha Comprida.

        O melhor passeio é andar de barco ou voadeira pela Baía dos Golfinhos até a Ilha do Cardoso. Por incrível que pareça, na Baía dos Golfinhos há golfinhos realmente. Eles fazem piruetas a dez metros da embarcação, em dupla ou trio, facilmente captáveis pelo clique fotográfico. A Ilha do Cardoso é uma reserva natural, com um núcleo de estudos ecológicos.

        A região produz uma árvore popularmente chamada de cataia, cuja folha entra na composição de uma bebida alcoólica muito apreciada, a cachaça de cataia. Quem vier à Cananéia precisa provar dessa cachaça, enquanto espera por um camarão, robalo, betara, siri, entre outros pescados. A gastronomia é um dos itens indispensáveis na agenda do turista, bem como o conhecimento do lugar (atestado por esta crônica).    

A BÍBLIA E OS CRISTÃOS

 

“A maioria das pessoas deste mundo

acredita que o Criador do universo

escreveu um livro”

Sam Harris

 

            A Bíblia é a palavra revelada – afirma a doutrina e acredita piamente todos os cristãos. O pressuposto é que houve um texto original ditado por Deus. A propósito, essa autoria transcendente caracteriza outros escritos religiosos e afins: Corão, Livro dos Mórmons, Livro dos Espíritos, entre outros.

            A crença é de que as diversas traduções dos textos originais, sua reescritura, acréscimos e cortes não comprometem a autenticidade da Bíblia. Destarte, existem atualmente pelo menos três versões diferentes: a Bíblia católica, a Bíblia evangélica e a Bíblia ortodoxa. As divergências de forma e conteúdo, todavia, são insuficientes para abalar o dogmatismo cristão.

            Ao longo dos primeiros séculos da Igreja Católica, as chamadas guerras santas foram sangrentas, com perseguições e execuções fratricidas, tudo pela injunção de um texto único, com uma interpretação convergente. Jesus é mais humano? Mais divino? Humano e divino ao mesmo tempo? Há outras possibilidades, como a compreendida pelos judeus, de que Jesus não era o Messias, ou a de alguns estudiosos sérios, que asseguram a não existência histórica de Jesus.

            A discussão não tem fim, malgrado a inadmissibilidade para o mundo cristão e a irrelevância para outros mundos.

            Ainda sobre a Bíblia, a edição evangélica, por exemplo, soma 66 livros, 1.189 capítulos e 31.103 versículos. Esses números são diferentes das demais bíblias. Se a versão primeira foi ditada por Deus, quem autorizou a supressão de 12 livros em relação à bíblia ortodoxa (mais antiga, mais próxima da origem)? Os textos suprimidos não se configuram uma afronta ao seu autor (que era bastante irado no princípio)?

            Por que os pregadores escolhem certos versículos e evitam outros? Por um lado, a fé é superestimada num contexto imaginário de adoração extrema. Por outro, nenhuma referência à obra coerente com os preceitos bíblicos.

            No dia a dia, fora do templo, a vida de muitos cristãos é de uma indisfarçável hipocrisia. Basta apenas o versículo 24, capítulo sexto de Mateus, para escancarar a contradição: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.

            Obviamente, esse versículo nunca é citado pelos astutos propaladores da palavra. Ele nega frontalmente a doutrina da prosperidade, nega a conduta real da maioria cristã, ávida por dinheiro.

SUPERPOPULAÇÃO

 

         Os otimistas não se impressionam com a superpopulação, não a anteveem como um problema sério. Diferentemente, desde os anos oitenta, preocupo-me com o crescimento demográfico.

         Bem ou mal, todo o artifício tecnológico, potencializado de uma forma crescente, tem atendido à demanda de alimentação. Obviamente, isso ocorre às expensas da sustentabilidade, ou da preservação do meio ambiente.

         Os recursos naturais, independentemente dos processos para explorá-los, exaurem-se a olhos vistos. As alterações climáticas são cada vez mais agressivas para o cultivo do solo. Essa prática preexistia aos sumérios, povo que desapareceu em decorrência de problemas locais, semelhantes aos que já podem ser observados em âmbito global.

         Como alimentar 9,7 bilhões de bocas? Se tudo correr bem, o que é quase improvável, o número de subalimentados e famintos crescerá muito, a duplicar ou triplicar os 811 milhões atuais.

A fome será apenas uma das consequências inevitáveis da superpopulação. Outras serão factíveis, mais ou menos graves. Não as nomeio aqui em respeito ao bem-estar do leitor mais sensível.