Luc Ferry é um filósofo
francês contemporâneo, autor de livros extraordinários, como O que é uma vida bem-sucedida, Aprender a
viver, A nova ordem ecológica, A revolução do amor, O homem-Deus, A mais bela história
da filosofia, entre outros. Malgrado os títulos acima, nada de autoajuda do
tipo senso comum.
Hoje destaco as cinco grandes respostas filosóficas para uma
vida boa, que Ferry disserta em seu A
mais bela história da filosofia. Essas cinco respostas foram dadas pela
filosofia ao longo de sua trajetória no Ocidente, nos últimos três milênios.
A primeira resposta surge na Antiguidade, “como pano de
fundo dos relatos mitológicos”, retomada mais tarde pelos filósofos clássicos
gregos. A ideia central dessa resposta se depreende da concepção de que o mundo
expressa uma ordem harmoniosa, o cosmos. “Uma vida boa”, escreve Ferry,
“consiste em adequar-se à ordem do mundo”. Ainda hoje, movimentos holísticos
voltam a ensinar uma prática que harmonize mente-corpo com a ordem do Universo.
A segunda resposta, na verdade, é apresentada pela religião
cristã, que substituiu a filosofia em franca decadência. Se a filosofia grega
remetia a “uma imortalidade muito parcial”, em que o indivíduo se dissolvia na
ordem cósmica, o cristianismo propõe a ideia de salvação pessoal, de
ressurreição do indivíduo para uma vida eterna e paradisíaca.
A terceira resposta é dada a partir do Renascimento, com sua
virada homocêntrica. Ela não mais se fundamenta no cosmos ou na divindade
supraterrena, mas na razão. Segundo Ferry, com o humanismo a filosofia permite
o surgimento de dois traços que passam a caracterizar a vida boa: a valorização
do conhecimento, a cultura, a civilidade; e a justificação da vida por um
exemplo, por uma contribuição à História, por uma obra, por algo que permaneça
na lembrança dos pósteros.
A quarta resposta resulta de um fracasso da razão iluminista
em dar um sentido à vida. Ela é instaurada pelos filósofos da desconstrução,
que passaram a considerar “as dimensões da existência até então esquecidas,
sufocadas ou reprimidas, como o inconsciente ou a animalidade”. Entre esses
pensadores, despontam Nietzsche, Heidegger e Derrida. Para o filósofo do
martelo, “todo ideal nega a vida”, de Platão à modernidade, constitui o que ele
denominou de niilismo. Sua proposta expressa no pensamento do eterno retorno é
de afirmação da vida.
A quinta resposta vem depois das “conquistas da
desconstrução” dos valores tradicionais (religiosos, morais, patrióticos),
época que Ferry designa como “humanismo do amor”. O amor possibilita uma experiência que dá um
sentido à vida, com maior alcance ao sair de nós mesmos. Amar e ser amado não é
metafísica, sentimento vivenciado na terra, e não no céu.
Ferry se declara um não nietzschiano, todavia, aproxima-se
do pensamento do eterno retorno, que propõe a afirmação da vida, o amor fati como salvação na imanência.
Como filósofo da desconstrução, por excelência, Nietzsche via no niilismo uma
catástrofe para nossa civilização, difícil de ser superada. Ferry é bem
otimista em relação à superação – pelo amor.
REFERÊNCIA
FERRY, Luc. A mais bela história da filosofia; tradução
de Clóvis Marques. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2018.