quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FESTÉBOM

Entre os livros de Nietzsche, Genealogia da Moral é apofântico, verdadeiro. Em seu grande projeto de introduzir os conceitos de sentido e de valor, começa defendendo que o filósofo é um genealogista, alguém que estuda valores de origem e origem dos valores. A crítica instaurada por ele não é uma reação, mas um modo de existência ativo. A leitura de Zaratustra complementa esse entendimento.
A introdução acima é necessária para o que o visitante deste blog, leitor inteligente, saiba o porquê da minha crítica a certos costumes, a certos valores sociais que fundamentam a vida moderna. Observando todo o estardalhaço que fazem as pessoas na passagem de ano, ouso dizer que o conhecimento genealógico do nosso calendário diminuiria os exageros cometidos num estado que beira a insanidade coletiva. Dois sentimentos parecem dominar a todos: o desprezo pelo que passou (2008) e a esperança pelo que virá (2009). Aquele é velho, encarquilhado, terra arrasada, e este é novo, bonito, terra prometida. Com alguns conhecimentos de Psicologia, adianto que jamais teremos um próspero novo ano se aquele que encerra seu ciclo não foi um ano próspero. Isso continua verdadeiro para qualquer outra variável que se coloque no lugar de prosperidade. Não é pessimismo, não. Puro realismo, admitindo-se que vivemos distante do Reino da Fantasia, com considerável saúde mental.
Na coluna do Expresso de hoje, abrevio um conteúdo vastíssimo para dar a entender em poucas palavras a minha posição quase alienígena diante da partição temporal. Uma necessidade de ordem cronológica, prática e exterior, forçou-nos a elaborar um calendário cheio de imprecisões e absurdos. O resultado foi a criação de um outro tempo, psicológico, interior (explorado pela Literatura e Cinema). Agora vivemos submetidos à ação de fora e de dentro, num trânsito cada vez mais confuso e veloz.
Apesar disso, não vou discordar dos meus contemporâneos: festa é bom.

Um comentário:

Anônimo disse...

Poetamigo!
(In)felizmente o novo ano começa, no dia seguinte ao meu aniversário, lá em Outubro. Saudações.Cácio Machado.