terça-feira, 28 de abril de 2020

TRÊS POSSIBILIDADES



      A Terra é esférica, à semelhança dos demais planetas do Sistema Solar. Não é mais uma hipótese, mas conhecimento irrefutável. Mesmo assim, pessoas se dizem terraplanistas, vangloriam-se até dessa crença bizarra. Segundo um levantamento recente, 7% dos brasileiros acreditam que a Terra é plana.  
        Três possibilidades justificam essa percentagem elevada: ignorância, excentricidade ou insanidade mental. A maioria é de ignorantes, persuadidos por alguns excêntricos, que ganham a atenção dos meios de comunicação. Os insanos são poucos, perdidos num devaneio pseudocientífico.
             Entre os ignorantes, uns são ingênuos, nada sabem sobre o assunto, outros pensam que sabem tudo. Estes são orgulhosos para reconsiderarem a posição terraplanista. Entre os excêntricos, há os que defendem o terraplanismo com convicção e os que mudariam de ideia, mas não o fazem porque ganham certa notoriedade em defende-la. Entre os dementes, existem ignorantes e excêntricos, que já apresentam os sintomas da doença.
        As provas da esfericidade da Terra têm uma chance de convencer os terraplanistas ignorantes ingênuos. A humildade os torna mais receptivos ao conhecimento, contrário à crença que lhes foi possível a partir da falseabilidade dos sentidos. Os demais continuarão terraplanistas pelos motivos já considerados acima.
        O norte-americano Michael Hughes pode ser classificado como um excêntrico. Mad Mike construiu um foguete na Califórnia, com o qual pretendia subir 1.500 m acima do nível do mar, para provar que a Terra é plana. No dia 22 de fevereiro de 2020, o terraplanista de 64 anos morreu ao explodir com a sua engenhoca insana.

LIÇÃO AOS TERRAPLANISTAS (IV)


SETE MANEIRAS DE PROVAR 

A REDONDEZ DA TERRA



            Alguns sites lincados ao Google enumeram sete formas ou fatos que provam ser a Terra redonda. Dois deles são muito comuns, malgrado a consistência indubitável de seus experimentos: o eclipse lunar e a observação de um barco sobre o horizonte marinho.
            Antes da prova matemática produzida por Eratóstenes, Aristóteles observara que durante os eclipses lunares, a sombra da Terra na face do satélite é curvada, a persistir curvada durante todo o fenômeno, com o planeta a girar continuamente. Caso a Terra tivesse outra forma, a sombra se modificaria ao longo do eclipse.  
            O segundo fato é observado durante o deslocamento de um barco sobre a linha do horizonte marinho. A embarcação não desaparece em razão da distância, a ficar menor cada vez menor; todavia, desaparece o casco primeiro e depois a vela. No oceano, esse horizonte-limite se repete vezes indefinidas, a provar a curvatura das águas.
            A terceira forma é obtida com o olhar atento para as estrelas, para as constelações. A posição das estrelas se modifica em relação ao Equador, quando observadas de diferentes lugares da Terra. Caso estivesse certo, o terraplanista, as estrelas não mudariam de posição de qualquer ponto de observação. As mudanças observadas só são possíveis em razão da esfericidade do planeta.
            A quarta prova é obtida com a medição da sombra de um palito. Pegue um palito com 30 centímetros de comprimento e coloque-o a 90º no chão, às 10 horas em um dia ensolarado, e meça o comprimento da sombra. O comprimento das sombras será diferente, e com esses valores é possível calcular a circunferência da Terra, como fez Eratóstenes na Grécia Antiga.
            A quinta forma de verificação é a mais simples, que Platão condenaria por se basear num dos sentidos. Quanto mais alto subimos, mais distante vemos a nossa volta. Caso a Terra fosse plana, com o auxílio de binóculos veríamos prédios de outras cidades ou montanhas que estão próximas de nós, todavia, isso não acontece. A esfericidade da Terra nos impede de observar o que está além do horizonte. Em Colônia do Sacramento, em dias claros, é possível divisar os prédios mais altos de Buenos Aires sobre a linha d’água do rio da Prata.
            A sexta maneira consiste em observar a curvatura da Terra de um avião em maiores altitudes. Por mais que atravesse longas distâncias, não há relato de que houve um corte vertical nessa curvatura, que continua sempre curva até completar uma volta no planeta. Este é fotografado das estações espaciais, há muito observado pelos astronautas, que também provam a esfericidade do globo terrestre.
            A última prova é fundamentada numa inferência silogística, que parte da observação dos demais planetas do Sistema Solar, todos esféricos. Esse dado é suficiente como primeira premissa. A segunda dá conta que a Terra pertence ao Sistema Solar, e a conclusão é de que também este planeta tem formato esférico.
            A matéria de um dos sites conclui que em épocas pretéritas, cuja informação era muito difícil de se obter, “é até aceitável que alguém fosse ludibriado com a história da Terra plana”; todavia, com as facilidades que hoje propiciam uma rápida pesquisa, não pode haver dúvida sobre o formato esférico do nosso planeta.

LIÇÃO AOS TERRAPLANISTAS (III)


      
ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA TERRA

        A Terra é um planeta rochoso, a orbitar o Sol numa zona chamada Cachinhos Dourados, que propiciou o surgimento e a evolução da vida. A camada mais externa, a atmosfera, é formada por gases (nitrogênio, oxigênio, hélio, gás carbônico, entre outros), vapor d’água, microrganismos, poeira e fuligem. Abaixo da atmosfera, mares e oceanos formam uma camada líquida, a hidrosfera. Os continentes e ilhas são a parte emersa da crosta terrestre. Sob a crosta, o manto e o núcleo completam a estrutura da Terra.
       A Crosta é a parte sólida que envolve o planeta. Ela tem uma espessura que varia entre 5 e 70 km e se divide em grandes placas tectônicas. O Manto é constituído por vários tipos de rochas que, devido às altas temperaturas, encontram-se em um estado pastoso chamado de magma. Sua espessura vai até 2900 km de profundidade, dividido em duas camadas: o Manto Superior e o Manto Inferior. O Núcleo é a parte central do planeta, também dividido: Núcleo Externo, líquido, de 2900 a 5150 km; e Núcleo Interno, sólido (devido à altíssima pressão), até 6378 km. Num corte completo do planeta, a crosta e o manto são mais ou menos circulares, a circundar o núcleo esférico.
      A crosta é composta por ferro, magnésio, silício, alumínio, oxigênio, cálcio, potássio e óxidos combinados. O manto é composto, principalmente, de ferro e silício. O núcleo externo é composto de ferro metálico e outros elementos, como enxofre, silício, oxigênio, potássio e hidrogênio; e o núcleo interno, composto de ferro e níquel. Os elementos acima citados representam a maior percentagem na composição do planeta, o que não exclui a existência de outros tantos, nomeados pela tabela de Dmitri Mendeleev1.

1. Dmitri Mendeleev (1834 – 1907), foi um químico e físico russo, criador da primeira versão da tabela periódica.
                   

LIÇÃO AOS TERRAPLANISTAS (II)


          
 ORIGEM, FORMATO E VELOCIDADE DA TERRA

         A Terra se formou entre 4,5 e 5 bilhões de anos antes do presente, sob os impactos das explosões solares, que decorriam das primeiras fusões de Hidrogênio. Os elementos mais pesados a girar em torno da estrela, submetidos ao calor intenso, agregavam-se em partículas de poeira, que colidiam entre si no disco protoplanetário. A concentração dessas partículas sólidas deu origem a objetos maiores, que continuaram a colidir entre si num processo de acareação.
            Não obstante os desenhos diferentes das rochas que se juntavam ao planetesimal, este adquiriu o formato esférico, em razão do movimento em torno do próprio eixo e do atrito com o material que o circundava ab origine. Um punhado de argila, para adquirir forma arredondada, basta friccioná-lo na palma das mãos ou sobre uma superfície plana. No caso do planeta, as mãos são representadas pela força gravitacional e pela velocidade de escape. A propósito, todos os astros celestes conhecidos são esferoides. A Terra não seria diferente.
            O movimento de rotação (em torno do próprio eixo) faz com o globo terrestre tenha um leve achatamento nos polos. O diâmetro entre um polo e outro é 43 quilômetros menor do que o diâmetro no Equador, que é de 12.756,2 km. Vênus, vista da Terra como se fosse uma estrela, a Estrela d’alva, tem diâmetro um pouco menor: 12.104 km. A Lua, 3.474,2 km. O Sol, 1.392.700 km (aproximadamente 109,18 vezes o diâmetro da Terra).
            A definição de diâmetro é fundamental para o objetivo deste texto, que é o de convencer os terraplanistas de seu equívoco: “qualquer corda que passa no centro de uma circunferência”1. Qualquer corda significa dizer que pode ser traçada de qualquer ponto da circunferência. A Linha Equador, no caso de nosso planeta, constitui a circunferência referencial para a medida de seu diâmetro. O Meridiano de Greenwich é outra. Qualquer ponto desse meridiano pode servir de base para uma corda que passe no centro do globo e encontre o mesmo meridiano do outro lado. A medida dessa corda (diâmetro) variará entre 12.756,2 km e 12.713,2 km.
            Outro aspecto interessante do planeta terrestre consiste em sua velocidade de translação e de giro sobre o próprio eixo. A primeira é de 107.200 km/h, a completar a volta em torno do Sol num ano. A velocidade de rotação é de aproximadamente 1675 km/h (medida na Linha do Equador), a completar a volta em torno de seu eixo num dia.
           
1.        Dicionário Houaiss

LICÃO AOS TERRAPLANISTAS (I)



A ESFERICIDADE DA TERRA

       O longo caminho que a humanidade percorreu desde sua origem é orientado pelo conhecimento adquirido acerca do mundo, da natureza e da vida. O homem contempla o céu ensolarado ou pontuado de estrelas em dias e noites sucessivos, e pergunta “o que é?”, “como é?” e “por que é?” o universo fora (e dentro) de si.
       Os filósofos pré-socráticos, também considerados os primeiros físicos, formularam respostas com base em elementos originais – não mais oriundos da fabulação, da ação de algum deus. Tais elementos, terra, água, ar e fogo, foram considerados por Aristóteles1 inclusive, que determinaria um lugar natural para cada um deles. Outros pensadores, como Anaximandro de Mileto2, que disse ser o ápeiron (ilimitado) o princípio de todas as coisas, e Demócrito de Abdera3, que intuiu a existência do átomo, a denominá-lo de pequena substância infinita e eterna.
        No que concerne à cosmologia, a concepção do mundo ainda era geocêntrica para os gregos antigos. Tales de Mileto4, por exemplo, concebia a Terra como um disco achatado, a flutuar sobre a água. Esse primeiro filósofo também foi o primeiro terraplanista da civilização ocidental. Um século depois de Aristóteles, também geocentrista, todavia, nasceu Eratóstenes de Cirene5, que estudou na academia fundada por Platão6.
        Eratóstenes (matemático, poeta, filósofo, geógrafo e astrônomo) entrou para a história da evolução cognitiva por calcular a circunferência e o diâmetro da Terra. Desde então, 2,3 milênios antes do presente, a forma esférica do nosso planeta é irrefutável. O que é uma esfera? Objeto redondo, “cuja superfície apresenta pontos com a mesma distância do ponto interior central”7. Posteriormente, outros estudiosos precisariam a medição do globo terrestre.
        Segundo os cálculos de Eratóstenes, a circunferência terrena teria 40.000 quilômetros. Seu erro foi tão somente de 70 quilômetros. Para comprovar a medida dessa circunferência, um avião decola de qualquer aeroporto da Terra e sempre chega do outro lado do mesmo aeroporto (depois de voar 40.070 quilômetros em linha reta).
       No século XVI, Nicolau Copérnico8 comprovou a ideia de Eratóstenes e deslocou a Terra do centro do Sistema Solar para uma das órbitas planetárias que circundam o Sol. O heliocentrismo se constitui numa das maiores descobertas já realizadas pelo intelecto humano. Outras tantas ocorreram depois, principalmente no século XX, que não deixa a menor sombra de dúvida sobre o conhecimento já adquirido acerca do mundo, da natureza, da vida.

1.     Filósofo nascido em Estagira, na Trácia (384 – 322 a. C), criador da ciência empírica.

2.     Filósofo pré-socrático, nascido em Mileto (610 – 547 a.C), discípulo de Tales.
3.     Filósofo nascido em Abdera (460 – 370 a.C.), discípulo de Leucipo.
4.     Primeiro filósofo, nascido em Mileto (625 – 558 a. C.).
5.     Estudioso nascido em Cirene (276 – 194 a.C.).
6.     Filósofo ateniense (427/28 – 348/347 a.C.), fundou a Academia, escreveu diálogos.
7.     Dicionário de língua portuguesa de Evanildo Bechara.
8.     Monge, matemático e astrônomo polonês (1973 – 1543), escreveu De revolutionibus orbium coelestium.