quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A VISÃO DE UM ACIDENTE

Hoje me levantei cedo para revisar as provas que trouxera do Expresso. Como a manhã estava fechada, ameaçando chuva, abri as cortinas da janela para ler melhor. De repente, um ruído de freada me fez olhar para fora. Uma moto girava no ar (como se fosse em slow-motion, porque faço malabarismos com copo, xícara, faca etc.). Ao mesmo tempo em que a moto rodopiava, seu condutor sofria uma queda no rápido e pesado vôo, duramente interrompida pelo asfalto. A primeira coisa que pensei, ao sair manquitolando pelo portão, foi de saber o que provocara o acidente. Havia muitos cavaleiros subindo para o desfile. Ainda bem que o acidentado estava com o capacete, foi a segunda coisa que pensei. Em frente à parada do ônibus, no meio da rua, um cão agonizava sem qualquer atendimento. Por instinto especista, todos se dirigiam ao rapaz primeiramente. Em alguns minutos, chegou a ambulância. Voltei para dentro, imaginando o quanto de adrenalina uma pessoa libera entre o momento em que percebe a inevitabilidade do acidente e o momento em que perde os sentidos. As supra-renais devem responder tão rapidamente quanto o impulso cerebral, produzindo o máximo de hormônio. Esse aspecto físico-químico, no entanto, não tem a menor relevância ante o fato de um jovem ser conduzido ao hospital e um cão estrebuchar sobre o meio-fio (completamente ignorado).

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