Num dos posts abaixo, escrevo que os homens estão errados ao pensar que as florestas existem para que eles vivam. O mesmo preconceito antropocêntrico, a mesma vaidade, pode ser observada na relação humana com o clima. Ela é fundamentada por um princípio hedonista, que preconiza a obrigatoriedade das temperaturas variarem conforme o desejo e a conveniência dos homens. (Não emprego a primeira pessoa do plural para ser coerente com o meu percebimento do equívoco, o que me faz mais adaptável ao meio.) Exemplo social desse comportamento especista ocorre nas grandes cidades construídas às margens de um rio, cujas áreas de alagamento em tempo de cheia foram sendo ocupadas para urbanização. Quando os pequenos dilúvios acontecem, a população ribeirinha chora e esbraveja que o rio invadiu suas casas e que o governo precisa urgentemente fazer alguma coisa. Em Curitiba, o então prefeito Roberto Requião resolveu o problema no âmbito dialético: as casas invadiram primeiro o leito do rio. Quente ou frio, seco ou úmido, o clima existe independentemente das necessidades humanas, apesar de estas já interferirem naquele de uma forma nefasta para a própria vida.