domingo, 30 de setembro de 2007
TER OU SER?
Erich Fromm, filósofo e psicanalista, escreveu um livro para analisar a dicotomia ter ou ser da nossa existência. Antes de expressar a sua concepção, ele cita os grandes mestres da vida: "Buda ensina que, para chegarmos ao mais elevado estágio do desenvolvimento humano, não devemos ansiar pelas posses". Com relação a Jesus, escolho outra citação, a passagem do jovem rico, Mt 19.21: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me". Fromm continua: "Mestre Eckhart ensinava que ter nada e tornar-se aberto e 'vazio', e não colocar o eu no centro, é a condição para conseguir riqueza e robustez espiritual". Marx dizia que "o luxo é tanto um mal como a miséria, e que nosso ideal deve consistir em ser muito, e não ter muito". Nas palavras do próprio pensador: "Ter e ser são dois modos fundamentais de experiência, cujas respectivas forças determinam as diferenças entre os caracteres dos indivíduos e vários tipos de caráter social". Dessa forma, como "modos fundamentais de experiência", não haveria a estanqueneidade entre o ter e o ser, radicalizada pelos mestres. O século XX revelou uma preponderância crescente pelo ter, em todas as instância do mundo ocidental. O ter poder, por exemplo, fez da primeira metade do século um tempo de beligerância e conflitos devastadores. O ter coisas gerou o que ficou conhecido como "sociedade de consumo". Atualmente, há reações contra o exagero da riqueza material, apontando para uma aditiva "e", no lugar da alternativa "ou": ter e ser. Vislumbro um novo modo de existência, entretanto, que resultará de uma síntese forçada dos anteriores: o parecer. O parecer é tão recente que não me arrisco a analisá-lo. Mais adiante, talvez.
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