Ao formular a teoria acerca da evolução das espécies, Charles Darwin colocou a força como fator principal no processo seletivo. A sobrevivência como uma prerrogativa do mais forte. Com "mais forte", o cientista fazia uma generalização, incluindo outras qualidades, como mais inteligente, mais veloz etc. Em se tratando de árvore frutífera, mais doce. Como seria o pessegueiro (ou seu ancestral imediatamente anterior) há dez mil anos? Os frutos que produzia, provavelmente, eram muito amargos, mas suficientemente doces para despertar o gosto num primata que nunca deixou de ser frugívoro. Por determinantes externas, entre as quais o solo e o clima, um pessegueiro passa a dar frutos um pouco mais doces. Nalgum sítio da Ásia (de onde o pessegueiro é originário), duas árvores dessa espécie frutificam ao mesmo tempo. Para surpresa do homem, que há pouco descobrira a agricultura, dois pêssegos com grau de doçura diferente. A tendência natural de quem distinguisse os dois sabores era carregar o pêssego mais doce. Os genes dos vegetais, impossibilitados de locomoção, criaram estratagemas ao longo de milhões de anos para assegurar sua sobrevivência. A polpa dulcíssima que envolve algumas sementes pesadas não passa de engambelação (e como funciona!) . O que aconteceu com o pessegueiro um pouco mais amargo? Seus frutos, maduros, caíram em volta do próprio caule, não alcançando seus genes outras glebas. Com a interferência contínua do homem, hoje os pêssegos são muito doces. Consumidos in natura, fervidos em calda, transformados em geléia e chimia. Todos os frutos comestíveis, como o pêssego, foram melhorando gradativamente. Uma pena que o responsável por essa melhoria genética não consiga, também ele, pautar sus sobrevivência pela doçura. Ao contrário, tem sido cada vez mais agressivo, mais violento.
oooo
(Publicado na coluna do Expresso Ilustrado em 08 de dezembro de 2006.)
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