Os últimos posts do Júlio Prates são extraordinários, revelam uma evolução holística admirável. Como já fiz com um poema em prosa da Vivian, transcrevo Rumo do meu amigo, considerando a parcela de leitores distintos."Um dos aspectos mais trágicos da vida é aconsciência do convívio com a morte e com a dor. Lastimo - nos seres humanos - a presença de dor. Confesso que nunca senti tanta dor em meu corpo como no dia de hoje. Não sei explicar a origem, a dor parece que caminha, formiga, impede o movimento dos braços e gera uma ansiedade e um pavor sem precedentes. Fico inquieto, quero calar-me, mas não consigo. O simples fato de não poder teclar e nem desenvolver meu livro angustia-me ainda mais. Estou muito triste.Também vejo em ruínas uma instabilidade que me acompanhou nos últimos tempos. Não temo as ruínas, pois não temo o caos, assim como não temo os labirintos do pavor da busca, do medo e da incerteza. Ante a convivência do convívio contrariado, não se deve perder a perspectiva que, mesmo na incerteza, paira algum fundamento de certeza. O fundamento de certeza que ronda nossas almas pode ser um tênuo fio que conduz ao absurdo, ao nada, ao caos e ao abismo, mas nem por isso deixa de ser certeza. Agora isso, o tudo mais apresenta-se como perspectiva edificadora, afinal, depois do caos só pode mesmo desabrochar uma estrela cintilante. Eu temo o caos, eu não temo o caos. Quero dormir um pouco e sonhar que vou acordar sem dor ou com a dor mais aliviada. E que outros tormentos tomem o rumo de uma latrina."Esta crônica, pungente por seu tom confessional, possui uma beleza rara (própria de uma supernova). Nietzsche estava muito certo: a existência do mundo (e a do próprio ser pensante) não se pode justificar senão como fenômeno estético.
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