Depois de quase um mês de trabalho, a antologia dos autores homenageados na Rua dos Poetas segue para a editora. À exceção dos livros do Caio Abreu e do Frotinha (Caminhos desencontrados) , Dr. Valdir Pinto me emprestou uma sacola cheia com as obras de Manuel do Carmo, Zeca Blau, Ramiro F. Barcelos, Túlio Piva, Antonio Carlos Machado e Sílvio Duncan. Na cama do hospital ou de casa, esses livros foram lidos e relidos por mim, na difícil seleção dos melhores poemas, crônicas e contos. Mais tarde, adaptei uma poltrona na frente do computador e comecei a digitação. As edições de Manuel do Carmo remontavam ao primeiro quarto do século XX, com o português necessitando de uma atualização ortográfica. Nada que alterasse o número de sílabas dos versos. Do poeta acima, escolhi onze sonetos, entre os quais No trem:
Vou distraído a olhar pela vidraça.
Tudo célere foge atropelado:
Agora um matagal, agora um prado,
Agora uma ave que no azul esvoaça...
Tudo além se confunde, tudo passa
Em grande confusão. Por entre o gado
Avestruzes em bando acelerado
Vêm e passam no campo da vidraça.
Bem assim no correr de nossa vida,
Quanta coisa fugindo divisamos
Numa grata ilusão que nos convida.
Distraídos a turba contemplamos
Que parece fugir-nos de corrida
Quando em verdade nós é que passamos.
Onze sonetos de Zeca Blau (pseudônimo de José de Figueiredo Pinto). De Ramiro F. Barcelos, três longos poemas e duas crônicas autobiográficas (ambientadas na Santiago antiga). De Túlio Piva, selecionei sete sonetos e quatro letras de sambas famosos. Onze sonetos em arte menor de Antonio Carlos Machado. Onze poemas de Sílvio Duncan. Seis crônicas de Carlos Humberto. Oito poemas crioulos de Jaime M. Pinto. Cinco contos de Caio Abreu, escolhidos entre aqueles que oferecem uma leitura poética. Num momento em me debatia na idealização do título do livro, Oracy Dornelles aparece com a capa pronta, com o título e a ilustração. A Apresentação foi escrita pelo Dr. Valdir. Após a diagramação, a antologia ficou com 158 páginas. A catalogação foi elaborada pela bibliotecária da URI, Helenita Martinato. A coordenação dessa equipe foi da professora Denise Flório Cardoso. Hoje mesmo o material foi remetido à Editora Pallotti, SM. O livro significará um resgate da nossa cultura mais expressiva. A partir do dia 2 de outubro, Manuel do Carmo, por exemplo, será assunto nas escolas e nas rodas literárias. Não merecia ele nosso descaso ou esquecimento.
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