terça-feira, 19 de abril de 2011

POSIÇÃO IDEALISTA

Um fato pode suscitar grandes questionamentos. O massacre de estudantes no Realengo, por exemplo, reabriu o debate sobre o desarmamento. Também escrevi sobre esse assunto muito polêmico no início da minha participação como colunista do Expresso Ilustrado:
"O filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, começa com uma sequência de imagens que julgo das mais inteligentes do cinema. A cena mostra um ancestral do homem segurando um osso, um fêmur talvez, com o qual bate inadvertidamente contra a caveira do que tinha sido um animal de grande porte. O objeto-alvo se fragmenta cada vez mais, à medida que o primata imprime maior força aos golpes. De repente, o insight: armar cada indivíduo de sua tribo com um osso semelhante e, juntos, enfrentarem o grupo inimigo pela disputa de um manancial. O novo recurso dá certo, invertendo-se a condição de seu bando, de fraco e derrotado para forte e vencedor. 
"Essa adaptação de um conto de Arthur Clarke resulta num filme-tese sobre a origem da humanidade (tema que me fascina bastante, tanto quanto a Astronomia), coerente com a teoria evolucionista e com estudos antropológicos. A mitologia hebraica, equivocadamente, colocou um paraíso no cenário anterior ao nascimento do homem, mas acerta em imaginar um ato de violência no momento da ruptura, do surgimento da humanidade. Coisa que Otto Rank descreve psicanaliticamente como "trauma do nascimento". O fratricídio cometido por Caim [...] corresponde àquela primeira guerra entre duas tribos primevas. 
"A disputa pela água, todavia, precede a questão agropastoril e, certamente, irá sucedê-la também. 
"O mundo começou muito antes do que imagina o mito sacralizado pelos cristãos. Antes de ser divino, o homem foi, é e continuará sendo terreno. Humano, demasiado humano. E, graças à sua natureza agressiva, chegamos todos até aqui, vivos da silva de oliveira. 
"Mas, porém, contudo... isso não justifica que continuemos a usar armas, uma vez que estamos inseridos num processo de dominação dos instintos a que chamamos civilização, o qual preceitua a boa vizinhança, a negociação, a paz, o amor [...]. 
"O estigma de Caim já desapareceu de nossa fronte e a água terá de ser dividida. Ao invés de armas, ideias para um mundo melhor".
Em 2003, eu manifestava certo idealismo. Não tenho vergonha disso.

Um comentário:

Weimar Donini disse...

Caro Froilam.

O idealismo é uma utopia a ser transformada pela realidade?

Um abraço.