A contradição é um dos grandes defeitos de que poucas pessoas conseguem transcender (a partir do autoconhecimento). Sob o viés cristão, ainda muito influente no mundo ocidental, ela é um pecado. "Ninguém pode servir a dois senhores", preceitua o primeiro evangelho. A propósito, essa lei moral não é evidenciada pelos pregadores bíblicos, uma vez que eles mesmos não a vivenciam efetivamente. Os fiéis, então, independentemente da seita católica ou evangélica a que se relacionam, são vivas incoerências entre seus discursos e suas ações. Antes disso, contradizem-se nos próprios discursos. Num momento, defendem suas rezas (orações), suas igrejas (templos), sua fé, seu Deus; em seguida, falam em suas casas, em seus automóveis, em seus negócios, sempre exaltando suas conquistas materiais. A espiritualidade é afrontada pela sensualização, pelo hedonismo. A alma, afrontada pelo culto ao corpo. A moda é um monumento à aparência, denegação da já esquecida "beleza interior" (uma criação dos poetas idealizadores). Homens e mulheres se contradizem no que falam e no que vivem. Discursos versus ações. Por mais avançados em idade, eles não passam de crianças ingênuas, amplamente dominadas pelos instintos, com escasso desenvolvimento da (auto)consciência. Nessas condições, tais pessoas se tornam políticos, médicos, juízes, advogados, militares, padres, pastores, empresários, jornalistas, professores, enfim, alguém com destaque social, ou continuam, via de regra, formando a multidão anônima, terra a terra, que se move feito placa tectônica do senso comum. Diante de um observador inteligente, o ser contraditório é plenamente compreensível, justificável, uma vez que caracteriza como um todo nossa civilização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário