quinta-feira, 28 de abril de 2011

INCLINAÇÃO ESTÉTICA

Meu sonho desde adolescente era fazer carreira nas artes plásticas, mais exatamente  em desenho e pintura. Fui morar na capital com esse sonho. Em Porto Alegre, frequentei o Instituto de Belas Artes, na UFRGS, mas não completei o segundo semestre. Em 1982, ocorreu a maior greve dos professores federais, fato que também contribuiu para que eu abandonasse o curso. Um excesso de leitura me arrastou ao limite da normalidade, cujo resultado foi concluir que a pintura não me propiciaria uma ponte para a alteridade, para o outro. Naquele momento, ainda não conhecia o Expressionismo (uma tela como O grito, de Edvard Munch). O mundo a minha volta era pior do que eu imaginara. Dentro dele, uma das formas artísticas mais sublimes não teria espaço, não daria e não receberia nada. O país vivia o tecnicismo (em que minha geração foi muito bem escolarizada). No Rincão dos Machado, a família questionava sobre meu futuro como pintor. Tudo isso constituiu o grande motivo de ter desistido das Belas Artes, retornando da capital sem o sonho de menino. A partir de então, racionalizei, optaria pela palavra, pela escrita. As leituras me levavam a esse caminho. Ao invés da representação pictórica, de difícil acesso, o discurso na forma do martelo nietzscheano, direto e contundente contra esse mundo feio e perverso. Escrevi seis cadernos entre 1987 e 1994. Primeiros passos de uma longa caminhada feita com olhos bem abertos, sem a mínima chance para o sonho. Mas a minha inclinação pelo estético volta a se manifestar na poesia. Sem sonhar? Sem sonhar. Para os românticos, isso é impossível. Sou moderno. Gosto dos poetas modernos, que transformam o coração em razão, numa extensão da máxima de Pascal, "O coração tem razões que a própria razão desconhece". Depois de dois livros publicados, coloco a poesia no mesmo plano da pintura. Ela é para poucos, no entanto, continuarei poeta. Não posso vacilar duas vezes.  

Nenhum comentário: