domingo, 10 de abril de 2011

IMAGEM E SEMELHANÇA DO HOMEM

Com o retorno da energia elétrica, venho ao computador para a navegação (que é mais necessária que precisa). De tudo que visitei e li, destaco o seguinte excerto da postagem do Júlio Prates: "[as religiões] assentam-se em bases fantasiosas, são construções abstratas, mas operam num sistema neurolinguístico eficaz. As pessoas são chamadas ao arrependimento, à sujeição a Deus e a aceitação de um conjunto de dogmas, entre os quais o não duvidar, posto que a dúvida não provém de Deus".
Em poucas palavras, característica de quem possui um poder de síntese muito grande, o Prates expressa uma verdade que detonaria o objeto de sua crítica, mas isso não acontece, em razão dessa mesma verdade ser desconsiderada a priori. 
O atento fundador do cristianismo, pregando aos coríntios (numa Grécia em colapso religioso e filosófico), exclui toda a sabedoria deste mundo. Paulo de Tarso dogmatiza, rebaixando o sábio ao nível do astuto. Como se fosse possível sua peregrinação evangélica em território helênico se não o precedessem alguns sábios, como Sócrates, que acabaram com o que havia da antiga religião grega, tornando favorável o advento de um deus estrangeiro.
A dúvida é um princípio do saber que provoca a quebra de velhos paradigmas, entre os quais o judaico-cristão. Por isso, os hereges eram queimados na fase de maior poder terreno do cristianismo, condenação que não acontecia para os piores assassinos. 
Um deus que não se importa com o sangue derramado em seu nome, mas que persegue aqueles que duvidam dele, não passa de uma "construção abstrata", antropomórfica. Não pode estar morto, como sentenciou Nietzsche, uma vez que nunca existiu a não ser na cabeça doentia de homens que o criaram a sua imagem e semelhança.   

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