Para esta retratação, primeiro expresso um aspecto do meu caráter: a seriedade. Desde menino, vejo-me como um indivíduo muito sério, quase incapaz de me envolver numa pândega qualquer. Não escondo a influência da minha mãe, que era austera e intolerante com os deslizes e licenciosidades. Algumas vezes, diante de uma brincadeira do grupo, acabo provocando mais riso ao não me comportar de acordo com o socializado.
No dia 1º de abril, início da noite, via-me um tanto macambúzio, com pensamentos (auto)depreciativos. Ao publicar isso no blog, não me passou pela cabeça o Dia da Mentira". A princípio, queria apenas reverter a introspecção, apostando no poder catártico das palavras. Editada a penúltima postagem abaixo, ainda não me ocorrera brincar com meus visitantes. Todavia, minha serotonina chegara ao mais baixo nível, a ponto de pensar seriamente em anunciar o fim do blog na última postagem. Como o fiz.
Ato contínuo, decidi transformar o comunicado numa "pegadinha". Na manhã de sábado, postaria que se tratava de uma brincadeira. Nova e imprevisível crise de gota me impediu de vir ao computador. A dor inclemente não me deu tréguas ao longo do dia, diminuindo na madrugada de domingo, sob o efeito dos analgésicos e anti-inflamatórios.
À medida que passavam as horas, mais difíceis se tornavam as explicações para o meu desmentido. Em consideração aos visitantes que se dignificavam a protestar por e-mail, vivi um impasse ao longo do domingo: ou justificar a brincadeira, como o faço agora, ou não justificá-la, transformando-a num fato consumado (o encerramento do blog).
A seriedade das mensagens recebidas me acusavam indiretamente do morcego que fizera ao intentar um beija-flor. Decididamente, não sei brincar. Caráter apolíneo, tenho dificuldade com o oposto dionisíaco, algo de que se ressente até minha poesia.
Peço desculpa aos leitores que consideraram verdadeira minha decisão de excluir este blog e agradeço-lhes pelas palavras elogiosas.
3 comentários:
Ainda bem que foi brincadeira do dia da mentira.
Imagino, seria uma perda: Se todos os que têm muito a dizer, desistirem, corremos o risco deste vazio ser preenchido pelos que pouco têm a acrescentar.
Quanto à gota, sou solidário; padeço do mal e conheço seus infortúnios.
Um abraço.
Menos mal! Tudo, menos o fim do teu blog.
Entendo perfeitamente o ônus da seriedade. Também sou assim.
Abraço,
Nivia
Meu amigo.
Quando li “ fim do blog”, acreditei que fosse uma pegadinha de 1º de abril.
Ontem a noite quando percebi que não postastes nada, fiquei sem palavras e imensamente triste. Hoje a alegria reina novamente.
Um abraço carinhoso
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