Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de
Londres p'ra Iorque, onde nasceste (dizes...
que eu nada que tu digas acredito),
contar àquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,
Embora não o saibas, que morri...
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará... Depois vai dar
a notícia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande
.
Segundo seu mais recente biógrafo, o pernambucano José Paulo Cavalcanti, Fernando Pessoa escondia sua homossexualidade, assumindo-a por intermédio de seu heterônimo Álvaro de Campos. Os versos 7 e 8 do soneto acima revelam poeticamente a inclinação pelo mesmo sexo, corroborada por Antonio Botto, amigo do poeta: "(ele) olhava de certa maneira para os rapazinhos". Quanto à vaidade, Cavalcante escreve: "Os cobradores viviam na porta da casa dele, mas ele continuava a se vestir no melhor alfaiate".
(Para saber mais detalhes da personalidade de Fernando Pessoa, ler a revista Época desta semana e o livro de Cavalcanti, Fernando Pessoa, uma quase autobiografia.)
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