domingo, 20 de março de 2011

ESCRITORES DO DIA / ESCRITORES DA NOITE

Roland Barthes dedica algumas páginas de seu A preparação do romance para escrever sobre o horário de trabalho dos grandes escritores. 
"Todos os que conhecem um pouco "a lenda dos escritores (suas biografias com seus traços memoráveis) sabem que há escritores do Dia (e sobretudo da manhã) / escritores da Noite.
"Escritores da manhã: o mais puro é Valéry; 5 horas da manhã, café, abajur, todas as manhãs durante a vida toda. 
"Escritores da Noite: os mais notáveis - Flaubert (em parte, porque ele escrevia noite e dia). Rimbaud [...] em carta a Ernest Delahaye, descreve muito bem a 'poiética' do trabalho noturno: 'Agora, é à noite que trabalho. De meia-noite às cinco horas da manhã. [...] todos os passarinhos gritam ao mesmo tempo nas árvores: acabou. Não trabalho mais. [...] Às cinco horas, descia para comprar algum pão; é a hora. Os operários estão a caminho por toda parte. Para mim, é a hora de tomar um pileque nas vendas de vinho. Voltava para almoçar, e me deitava às sete da manhã, quando o sol fazia os tatuzinhos saírem de baixo das telhas'.
"Kafka, sua alegria por ter escrito O veredicto de uma assentada, das dez da noite às seis da manhã.
"Proust: tão conhecido que não insistirei; inversão completa do dia e da noite. [...] quando ele ia ao Ritz, às duas da madrugada, pedia a Olivier 'um café bem forte, um café que valha por dois'. Proust acreditava que, à noite, suas crises de asma eram menos frequentes.
"Trabalhar à noite? Claro, boas razões práticas (silêncio, calma, ausência de interrupções).
"Kafka só podia trabalhar se tivesse, à sua frente, uma continuidade, portanto à noite, no mais completo isolamento. [...] Balzac, que não podia trabalhar se não dispusesse de pelo menos três horas à sua frente."
Barthes confessa ser um escritor da manhã, nunca da noite. 
No livro Cheiro de goiaba - Conversas com Plinio Apuleyo Mendonça, García Márquez responde que só trabalha de manhã, "das nove às três da tarde". 

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