quarta-feira, 2 de março de 2011

FESTA DE MARÇO

Afora o aniversário do vovô e os casamentos de suas sete filhas, só um acontecimento movimentava o demorado calendário do Rincão dos Machado: a Festa do Bom Retiro. O Ano-Novo constituía-se apenas num alerta de que o primeiro domingo de março estava mais próximo. Nesse grande dia, subíamos o Capão Bonito de calça, camisa e sapatos novos. A emoção de ir à festa mal cabia no peito, engendrada ao longo de uma espera interminável. Todos vivíamos a mesma alegria, desde os que passavam a se conhecer por gente ao vô Fermino. Este se aprontava ao vir do sol e buzinava sua caminhoneta, impaciente com a demora da patroa. Antes das nove, chegávamos à igreja de Nossa Senhora do Monte Bérico, já circundada por centenas de pessoas. Os Machado, os Boff, os Sampaio, os Gavioli, os Catelan, os Alpes, os Carlosso, os Damian, famílias de diferentes rincões ali se reencontravam depois de um ano.  Os toques do sino e os fogos que explodiam no céu chamavam os mais arredios para a festa religiosa (pelo menos na hora da missa). A Mesa dos Cavalinhos era uma atração à parte, cujas apostas tinham a organização do "seu" Negro. Os pequenos trazíamos o dinheiro exato para a soda laranja e o doce, os grandes comiam muita carne e risoto ao meio-dia e bebiam cerveja toda a tarde. Antes da construção do clube, a festa se constituía na única oportunidade de começar um namoro (ou de terminar outro). O dia acabava pequeno para isso, em razão do vacilo ou da timidez. À exceção dos cavalinhos, da soda laranja, do namoro acanhado e das pessoas que marcaram nossas vidas (entre as quais minha mãe, vô Fermino, vó Dorilda), a festa do Bom Retiro continua sendo um acontecimento no primeiro domingo de março. 

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