MANOEL DE BARROS
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Esses dois poetas se parecem inegavelmente. A mesma forma de quebrar a semântica, com a inserção de frames estranhos ao discurso. Basta comparar os excertos abaixos, retirados de O livro das ignorãças (azul), do mato-grossense, e de Biografia de uma árvore (laranja), do gaúcho, filho de Carlos Nejar e de Maria Carpi.
Esses dois poetas se parecem inegavelmente. A mesma forma de quebrar a semântica, com a inserção de frames estranhos ao discurso. Basta comparar os excertos abaixos, retirados de O livro das ignorãças (azul), do mato-grossense, e de Biografia de uma árvore (laranja), do gaúcho, filho de Carlos Nejar e de Maria Carpi.
"Poesia é quando a tarde está competente para dálias. É quando ao lado de um pardal o dia dorme antes. Quando o homem faz a sua primeira lagartixa. É quando um trevo assume a noite E um sapo engole auroras"
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"O fogo é uma noz que não se quebra com as mãos"
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"Para entrar em estado de árvore é preciso partir de um torpor animal de lagarto às três horas da tarde"
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"A literatura não prestou para me entender.
Como uma árvore à beira da maré,
estou comovido de espuma."
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"Ontem choveu no futuro"
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"Meus pais estão no futuro"
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"Bernardo é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem
de longe"
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"Legendar a conversa dos pássaros ao amanhecer,
esticar o arame do violino,
restaurar o som dos peixes com o veludo dos pés"
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"Conheço de palma os dementes do rio.
Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama
e de Rogaciano.
Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar
no horizonte"
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(Essa dos pregos é extraordinária)
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"Gritar nos ouvidos da claridade até surgir relâmpagos"
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Não tenho razão? Essa semelhança merece um estudo.
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