Até meados do século XX, o namoro entre um rapaz e uma moça era comum acontecer com a interferência dos pais. Afetados pela cegueira da paixão (ou do amor, como queiram), os jovens necessitavam de olhos mais experientes, que viam por eles muito além do interesse anímico, passional. Em alguns casos, a negativa era imposta antes mesmo de haver o pedido formal. Na casa de Mariano Pedroso*, a maneira como foi impedido um namoro, quando este não passava de uma silenciosa pretensão do rapaz, merece a atenção do cronista (que achou por bem compartilhar com seus leitores). Não era a primeira vez que o já solteirão Geraldino Flores vinha à casa de Marianinho para lançar olhares em direção a Leonor. O pai da moça resolveu intervir no sonho do visitante de um jeito que, aparentemente, condizia com os bons costumes. Antes que Geraldino chegasse certa manhã, de capote e tamancas, Marianinho preparou uma “erva” com excremento de capivara (laxante natural dos mais poderosos). Com a desculpa de uma lida qualquer Marianinho pediu a Leonor que servisse o mate à visita. Geraldino sorveu umas três cuiadas como se tivesse nas nuvens. Todavia, não demorou muito, o ousado sonhador veio ao chão, levantou-se, ganhou a porta e a restinga do lajeado. Quase um século depois, ele ainda não voltou à casa de Leonor, ao menos para apanhar seu capote (sobre a guarda da cadeira) e as tamancas perdidas dos degraus à porteira. Infelizmente, ele vivia noutro tempo, diferente de hoje. Muito diferente! Agora os pais, via de regra, são os últimos a ficar sabendo do namoro dos seus. Mesmo assim, já não mais se surpreendem se o filho tem um namorado, se a filha encontra-se grávida. Não mais se supreendem, vírgula.
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* Os nomes próprios da crônica acima são fictícios.
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