Qual minha surpresa ao abri o Zero Hora deste sábado? O nome da professora santiaguense Arlete Gudolle Lopes, assinando o artigo O outro lado da dor, o qual transcrevo abaixo:
Ao tomar conhecimento de trágicos acidentes ocorridos em ruas ou em estradas brasileiras, por instintivo e gradual sentimento de preservação, a sociedade se comove e, raramente, consegue estabelecer um julgamento desapaixonado e isento sobre tão nefastos episódios. Devido às indizíveis mazelas desencadeadas por esses fatos estarrecedores, as pessoas voltam-se, irascivelmente, contra o causador do infortúnio, caso tenha conseguido sobreviver a ele. Comiseração e solidariedade encimam demonstrações afetivas para com os familiares dos acidentados, especialmente se resultar em óbitos ou mutilações.
Parentes e amigos, rememorando as vítimas, fazem aflorar a falibilidade delas, gestando inominável sofrimento naqueles que as rodeiam, não raro acompanhado de ódio e revolta contra o mentor do acidente. Se meros desconhecidos, uma estranha sensação de alívio escamoteia a piedade por não constarem em seu rol de afetos, por isso o sofrimento se faz menor ou a indiferença sobrepuja qualquer outro sentimento. Fazem-se compreensíveis tais posicionamentos, uma vez que esse tipo de evento poderia ser evitado, se o infrator obedecesse às normas de trânsito, não bebesse, refreasse a impetuosidade e se houvesse, nas vias públicas, melhores condições de trafegabilidade. Lamentavelmente, as estratificações sociais olvidam o anverso dessa tragédia.
Só quem conviveu com algum condutor de veículo que escapou com vida e foi o causador do infeliz acontecimento, pode aquilatar a extensão do infortúnio que se abate sobre ele e sua família. Nos pais, ecoa irreprimível sensação de culpa e impotência por não anteverem a tragédia, ao mesmo tempo, sentem-se gratos por não ter sido um dos seus a vítima. Esse misto de culpabilidade e gratidão acompanha todos os envolvidos por longo tempo, cujo desenlace, além de se fazer pontuar por desgastes financeiros e emocionais infindáveis, quase sempre se corporifica em isolamento individual por vergonha ou por medo de enfrentarem o julgamento das pessoas conhecidas e dos parentes daqueles que tiveram vidas ceifadas ou danificadas.
Para que essa hecatombe social seja banida do país, é mister que os membros da sociedade motorizada repensem o seu papel de condutores e façam do prazeroso ato de dirigir uma lição de cidadania ao respeitar as leis de trânsito, servindo como referenciais a serem seguidos. Com isso, seus descendentes assimilarão as lições de como bem conduzir automóveis empiricamente, aperfeiçoando o aprendido junto a instrutores especializados, a fim de que não se valham do veículo como uma arma que pode ceifar a própria existência e a de outrem. Havendo prudência, observância às normas de trânsito, profundo respeito à vida (sem bebidas), as ruas e as estradas (sem buracos) do Brasil servirão como sendas da confiabilidade e retorno seguro para os lares.
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Parabéns, professora Arlete! Sou leitor assíduo de seu blog.
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