quarta-feira, 15 de abril de 2009

CATARSE OU REMISSÃO


Hoje minha mãe fazia aniversário. Um dia inesquecível desde que passei a me entender por gente. Desenvolvi a capacidade de memorizar essas datas especiais para as pessoas do meu universo social. Mais tarde, passei a anotá-las na agenda. Dia 15 de abril era o aniversário da mãe, quando deveria se sentir mais feliz. Não demonstrava isso, no entanto. Eu aprendi com ela a conter certas manifestações afetivas, em palavras e gestos. Isso era costume nas famílias do interior, cuja poderosa influência ainda não se observa como exceção nestes dias. A mãe aniversariava, e ninguém dizia qualquer coisa. Eu e minhas irmãs ficávamos mais felizes, mas comíamos o pudim em silêncio. Com a maturidade, perdi um pouco aquela vergonha discursiva e gestual, não o suficiente para ter sido um filho mais doce, mais amoroso. D. Dalva faleceu há três anos, exatamente no dia em que fazia aniversário, 15 de abril. Nenhum acontecimento foi e continua sendo mais doloroso para mim. Tudo o que escrevo sobre minha mãe (após sua morte) é, de certa maneira, catarse ou remissão.

2 comentários:

Érica disse...

Não sofre assim...
Quando a mãe vai embora todos se sentem órfãos, independente da idade.
Um abraço forte nesse dia que é tão importante.

CRISTINA CARDOSO disse...

Brotou lágrimas de meus olhos....e caíram sob minha face.A saudade grita..mas n ouço eco....Lindo o texto tio..bjosss