Apenas no meu calendário, hoje é um dos dias do ano em que a poesia merece ser lembrada. Alguém que lê esta postagem sabe a justificativa que me leva a escrever isso? Visito o blog da Lígia Rosso*, na certeza de encontrar algo que me ajude, mas retorno a esta janela (janelinha, janelão) seguro de que nossa blogosfera prefere outros assuntos à poesia. Dia desses, recebi um comentário de quem não aguentava mais minhas considerações metapoéticas. Não o publiquei por uma questão de coerência: o comentário era anônimo (ainda que educado, sério). Em 23 de abril, nasceu um dos maiores poetas da humanidade, que nasceu numa pequena cidade da Inglaterra, chamada Stratford-Avon. Coincidentemente, o autor de 154 sonetos e 38 peças teatrais morreu em 23 de abril, na mesma Stratford-Avon. Dele, Voltaire escreveu que não passou de um bárbaro que compôs "monstruosas farsas e tragédias", e Lord Shaftesbury disse ser "um espírito selvagem e grosseiro". Segundo Will Durant, o mundo inteiro sabe de como esse homem se "casou às pressas e se arrependeu demoradamente; como fugiu para Londres, se fez ator, refez a seu modo velhas peças, e concluiu, com Kit Marlowe que todas as coisas são melhores de caçar do que de gozar; como esgrimiu com agudeza contra Chapman e Bem Jonson na taverna da Sereia; como declarou guerra aos puritanos incipientes e os desafiou com alegria; como leu Plutarco, Froissart e Holinshed e aprendeu história, como estudou Montaigne e aprendeu filosofia; como afinal, por meio do estudo, do sofrimento e dos desastres, se tornou o Guilherme, o Conquistador dos teatrólogos do seu tempo e passou desde então a governar o mundo que fala inglês". Durant continua, com seu estilo vibrante: "O que nele mais gostamos é a loucura e a riqueza do seu falar. Tem o estilo da vida que levava, pleno de energia, tumulto, cor e excesso... Estilo às carreiras, sem fôlego... Nunca emendou uma linha, nem corrigiu provas; a suposição de que no futuro suas peças seriam antes lidas do que representadas jamais lhe ocorreu. Descuidado do porvir, escreveu com o fogo da paixão. Palavras, imagens, frases e ideias lhe vinham numa inexaurível torrente... Homem nenhum dominou tanto uma língua, nem usou-a com maior prodigalidade... Sim, seus enredos são impossíveis, como o notou Tolstoi; os equívocos são pueris, os erros são legião, e a filosofia é de renúncia e desespero. Nada importa. O que importa é que em cada página fulgure a divina energia da alma - e isto nos faz perdoar tudo a um homem. A vida está além da crítica - e WILLIAM SHAKESPEARE é mais vivo que a vida".
* A Lígia é a pessoa que mais gosta de Shakespeare em Santiago. Competente professora de inglês, ela foi minha colega no pós-graduação de Leitura, Análise, Produção e Reescrita Textual.
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