quinta-feira, 16 de abril de 2009

ECOLOGIA OU DISCURSO INGÊNUO

Poucos discursos são tão ingênuos – para não dizer contraditórios – quanto o que formulamos ou que ouvimos acerca de uma consciência ecológica, de proteção ao meio ambiente. Ingênuos, mas justificáveis, em razão da fase inicial por que passa a nova ciência. O protocolo de Kioto, por exemplo, ao propor uma redução de 5% (cinco por cento) na emissão de dióxido de carbono (CO2), foi de uma ingenuidade risível. Em Santiago, nestes últimos anos, houve um acréscimo expressivo no número de automóveis. Nos grandes centros, o acréscimo foi incomensuravelmente maior. Em países que experimentam uma fase de rápido desenvolvimento, como a Índia e a China, o acréscimo de automóveis e de indústrias elevou à estratosfera a quantidade de gases poluidores. No princípio, a cultura agrícola era necessária para a sobrevivência do homem rural, mas passou a representar uma fonte de riqueza nos últimos séculos. A exploração e o enriquecimento material – em qualquer lugar e tempo – sempre causaram um mal a terra, à água e ao ar. Não bastasse os fatores naturais desfavoráveis à vida, a humanidade vem contribuindo de forma suicida para o desequilíbrio ambiental. O solo é abandonado à esterilidade; os rios morrem a olhos vistos (atingidos pelo câncer que se instalou em seus cursos: as cidades); e a atmosfera é transformada numa grande lixeira. O que fazemos para frear isso? Apenas discursos. No campo, o processo devastador continua mais acelerado do que antes. Na cidade, o modus vivendi contradiz o discursado. Muita água continua sendo desperdiçada ou devolvida ao ambiente suja, sem tratamento algum. Mais e mais energia é consumida, mais e mais se anda de automóvel (inclusive os que vivem a discursar sobre a necessidade de uma consciência ecológica).
Como alguém pode discursar sobre Ecologia com uma vasta piscina em casa, um ou dois automóveis e sem a leitura de um James Lovelock (mestre do nosso saudoso José Lutzenberger)?

Um comentário:

Al Reiffer disse...

Ótimo texto, um dos melhores teus que já li. Parabéns. Concordo plenamente e há muito venho afirmando isso. Apenas penso que o problema não é ter uma piscina em casa ou deixar de ter, ou andar de carro ou deixar de andar. Pensando assim, não deveríamos nem comer, ou nos vestirmos, ou ligar um computador, pois só esses atos já contribuem para a degradação ambiental. O problema é o uso que se faz da água ou do carro. Tudo o que fizemos, inclusive comer, fizemos em demasia, além do necessário. A água é desperdiçada de todas as formas, em todos os locais, em todas as casas, em algumas mais, em outras menos,mas é. Às vezes, nem mesmo tentando evitar o desperdício a pessoa consegue evitá-lo, faz parte da cultura humana, principalmente a que a "ciência" infiltrou em nossas mentes. As pessoas não sabem usar a água, como não sabem usar o carro. Usam quando não há necessidade. Ou em demasia. O problema maior é que a humanidade cresce sem limites, e até nossas respirações poluem o ar. O simples fato de vivermos e necessitarmos consumir os recursos naturais já é suficiente para, tendo em vista nosso número crescente, acabar com o planeta. A única saída para a humanidade é o fim dela. Falo isso em termos relativos, não absolutos. Um fim para um recomeço.