terça-feira, 4 de janeiro de 2011

LEMBRANÇA DO TREM

Por dois anos, fui a Porto Alegre e vim de lá de trem. Para ser mais exato: 1981 e 1982. Quando ia, certa expectativa,  certo receio do desconhecido. Quando vinha, muita saudade do pago. Cada viagem era uma aventura, que começava à tarde, na Estação Férrea de Santiago (ou da Capital). De dentro do trem, com suas janelas abertas, contemplava a paisagem dos dois lados da linha. Às vezes, sentava-me nos degraus, quase fora do vagão. Cortes, aterros, pontes, morros, várzeas, gente, gado, vento, vila, estrelas... Em Santa Maria, a baldeação, uma longa espera do trem que vinha de Uruguaiana. Depois que a noite fechava, voltava-me para o interior do vagão, onde conversava com as pessoas (idosos, jovens e crianças). Algumas amizades fiz nessas viagens, mantida por intermédio de cartas. 
No meu último livro, publiquei um poema impressionista (que transcrevo abaixo):
.
lembrança
.......1  
o trem rompeu
a quietude da tarde
onde havia um vilarejo
feito de mormaço
.
uma menina acenou
para os passageiros
e suas mãos exalavam
laranja madura
.
.......2
o vilarejo
ficou para traz
o trem
abandonado
na estação
.
a menina
(todavia)
acena de algum lugar
já transformado
em poesia
   

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta postagem sobre suas viagens de trem me remetem ao tempo em que eu também viajei no velho e bom trem passageiro, mais precisamente no idos dos anos 70. Recordo-me com saudade que quando viajavamos a noite, eu dormia na parte que ficava acima dos acentos, existia um tipo de cama, talvez fosse o lugar onde iam as malas, sei que tinha um bom espaço. Bons tempos aqueles. Um abraço e um FELIZ ANO NOVO A TODOS OS VISITANTES DO BLOG CONTRA.
Marcelo Langoni