Hoje é impossível o refúgio, a evasão. A realidade (dentro e fora) é tão surpreendente que me arrasta inexoravelmente. Como não sou um monge budista, acabo voltando ao terra-a-terra, onde é forçoso o registro de ideias e fatos desagradáveis.
No Jornal Falado (Rádio Santiago) deste sábado, ouço a notícia de que duas crianças dão entrada ao Hospital de Caridade da nossa cidade com suspeita de terem sofrido agressão sexual. Terrível, inacreditável. Nem a ficção consegue surpreender mais (em contos ou filmes de terror).
A Erilaine exclamou qualquer coisa como se o agressor fosse um animal. Observei-lhe que os animais não fazem isso. Nesse aspecto, comparar o indivíduo humano ao animal é uma ofensa ao animal. Pena que este não tenha consciência suficiente para reconhecê-la como tal. Na vida instintiva, o macho só ataca a fêmea em sua fase de maturidade sexual, quando ela está no cio.
Outra reação tende a classificar o autor de um crime de qualquer tipo como um bárbaro. Com a referência da História Natural, a barbárie é um período vivido pela humanidade que precedeu a civilização. Bárbaro, portanto, eram todos os homens antes do período atual. Outros significados foram sendo acrescidos ao termo, desde que os gregos e os romanos passaram a chamar de bárbaros àqueles que viviam fora de seus domínios. Sempre o mau, por uma razão etnocêntrica. Os bárbaros, na concepção dos gregos e romanos, eram tão civilizados quanto eles.
O estupro de bebês, por exemplo, constitui a prova de uma degeneração do homem civilizado (ou pós-civilizado). A degradação ambiental, que o Alessandro Reiffer acusa mais enfaticamente em seu blog, também demonstra a ampla degeneração da vida (sem ética).
Penso que a maioria das pessoas não quer abandonar a crença de que a civilização (ou a humanidade) caminha para algo melhor. Nietzsche já desmistificou essa esperança.
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