A história do Rincão dos Machado é pontuada por fatos relevantes que correm o risco do esquecimento. Os mais jovens perderam o hábito da reminiscência oral. Os idosos, que o herdaram de seus pais e avós, aos poucos, afastam-se definitivamente do nosso convívio. O Rincão dos Machado nunca mais voltou a ser o que era antes a partir do primeiro de novembro de 1972. A tranquilidade que nos caracterizava até então foi abalada com a descoberta no Dia de Finados que, na noite anterior, uma panela com ouro havia sido roubada das terras do Fermino Machado. Mais tarde, um dado transmitido à socapa precisava o montante do ouro desenterrado: dezoito quilogramas. Com a mudança de uns lindeiros para o Mato Grosso, onde viraram fazendeiros, tornou-se conhecida a autoria do roubo. Meu avô não se recuperou do baque, da amargura que agravou consideravelmente sua saúde. O homem que mais trabalhara duro, o patriarca da numerosa família, não teve a sorte e a perspicácia para encontrar o maldito ouro. Muitas vezes passara por ali, com uma espingarda 16 ao ombro. Seu grande divertimento era caçar veado, após uma semana de labor intenso com o gado e a plantação. Ele sabia do costume que tinham os ricos proprietários de enterrar seu dinheiro acumulado com a venda de mulas. Nunca passou pela cabeça que a prática tivesse ocorrido antes tempo naquele rincão. Não acompanhava os supersticiosos, que falavam de assombrações nos corredores, picadas e casarões velhos - indicadores dos locais em que se ocultava o ouro segundo eles. Por longos anos, doente sobre uma cama, bapai (como era chamado por alguns de seus filhos) pensou sobre o "enterro" que fora tirado do campo que lhe pertencia. Com a sua morte, em 1977, a história antiga do Rincão dos Machado chegava ao fim.
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