segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

RENASCER (NAS TREVAS)

O templo da Igreja Renascer que desabou em São Paulo já apresentava rachaduras e goteiras, mas seus líderes se defendem, sustentando que os alvarás do prédio estavam em dia. Obviamente que estavam, não passavam de papel.
O fato lamentável (pela perda de nove vidas) me serve de gancho para dissertar sobre um dos assuntos preferidos, contrariando a ignorância popular que, condicionada pelas autoridades religiosas, evita discutir religião. Os ignorantes nunca leram um David Hume, um Voltaire, um Feuerbach, um Nietzsche, um Bertrand Russel... Sequer têm noções de História Natural, Psicologia, Astronomia... Limitam-se a ouvir o que dizem os ambiciosos e espertos porta-vozes de Cristo, ou de Deus (entidades espirituais a que eles se equiparam em todo querer e em todo saber).
Apenas da Igreja Renascer são dois milhões de fiéis, entre os quais o jogador Kaká. Para essa massa não importa o fato de seus líderes, Estevam e Sônia Hernandes, encontrarem-se presos nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e ocultação de bens e valores, com prisão decretada no Brasil por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e estelionato. A fé é o que importa. Dizimistas inocentes, são condicionados a crer que estão contribuindo para a obra de Deus. Fora dos templos, o império econômico de seus pregadores cresce a olhos vistos.
Conheço o suficiente o coração dos homens para duvidar que haja, entre os líderes dessas igrejas cristãs, como a Renascer, alguém que seja sincero em suas pregações, coerente como foi João Batista (a ponto de perder a cabeça) e que não deseje chegar ao controle financeiro de sua entidade para se regalar com a riqueza material que tanto repudia discursivamente.
Esse fenômeno começou em 1977, com a criação de uma doutrina que contraria os evangelhos, a perfeição segundo Jesus Cristo: a prosperidade como uma promessa de Deus. Prosperidade terrena, diga-se de passagem.
Sou otimista com relação à perspectiva de que um dia a verdade venha a ser do domínio do senso comum, verdade que desmitifica o real, verdade que ilumina o mundo ainda sob as trevas da ignorância. Às vezes, o pessimismo me toma de assalto, quando não consigo vislumbrar a aurora.

Um comentário:

angel disse...

Hoje conheci seu blog e, lendo o que escreve, também um pouquinho de você.
Foi como encontrar uma fonte de água cristalina e pura onde pude matar minha sede. Sede de conhecimentos e textos bem escritos, de alguém que tem muito a nos contar.
Ficaria horas te ouvindo falar ou horas lendo tudo o que já escreveu. Mas estou aqui para lhe dizer que me sinto honrada por tê-lo entre as pessoas que acompanham meu blog. Aproveito aqui as palvras de Erilaine quando citou Antonio Cândido e Fernando pessoa em uma postagem sua.
Eu também "só escrevo o que sinto e assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto". Nada tem importância? Para mim, tudo tem importância. Prefiro a metáfora nietzschiana de Zaratustra, da "taça que quer transbordar, para que dela vertam as águas douradas, levando a todos os lábios a reprodução da sua (minha) alegria". Escrevo porque há um excedente em mim, seja de doçura, de verdade, seja o que for.
Uma ótima semana.
Volte sempre adorei a sua companhia.
Angel