quarta-feira, 14 de abril de 2021

AMOR EM TEMPOS DIFÍCEIS

 

        O amor em tempos difíceis continua a conjunção de astros, o ramalhete de flores, o amálgama de metais raros, a combinação de doces saborosíssimos, enfim, a soma de muitos sentimentos, qualidades ou atitudes que o constituem desde muito.

       Ao dizer “flor”, por exemplo, o poeta diz cherry blossom, cravo, gérbera, rosa, violeta... Esses nomes são hipônimos de flor, o hiperônimo. Ao dizer amor, o poeta diz cumplicidade, eroticidade, fidelidade, gentileza, reciprocidade... Essas flores compõem o grande ramalhete, cuja beleza e perfume excedem qualquer limitação temporal.

       A rosa que se quebra ou murcha compromete o ramalhete por inteiro. As outras flores são insuficientes para mantê-lo belo e fragrante. A fidelidade que se nega ao outro, ao ser amado, impossibilita o amor por inteiro.

       Aquele que ama verdadeiramente sabe o significado e a relevância de cada flor, de cada sentimento, qualidade ou atitude para o todo. O bom jardineiro não desiste de suas flores, simplesmente porque o tempo não é favorável a elas. O amante pega atalhos, quando a reta do tempo linear se entorta, ou quando o tempo circular vira rotina viciosa.

         O amor é a possibilidade de saltar para fora do tempo, seja este difícil ou não, sombrio (segundo uma denominação de Hannah Arendt) ou não, ao viver o instante – e sua eternidade.  

 

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