segunda-feira, 4 de outubro de 2021

A BÍBLIA E OS CRISTÃOS

 

“A maioria das pessoas deste mundo

acredita que o Criador do universo

escreveu um livro”

Sam Harris

 

            A Bíblia é a palavra revelada – afirma a doutrina e acredita piamente todos os cristãos. O pressuposto é que houve um texto original ditado por Deus. A propósito, essa autoria transcendente caracteriza outros escritos religiosos e afins: Corão, Livro dos Mórmons, Livro dos Espíritos, entre outros.

            A crença é de que as diversas traduções dos textos originais, sua reescritura, acréscimos e cortes não comprometem a autenticidade da Bíblia. Destarte, existem atualmente pelo menos três versões diferentes: a Bíblia católica, a Bíblia evangélica e a Bíblia ortodoxa. As divergências de forma e conteúdo, todavia, são insuficientes para abalar o dogmatismo cristão.

            Ao longo dos primeiros séculos da Igreja Católica, as chamadas guerras santas foram sangrentas, com perseguições e execuções fratricidas, tudo pela injunção de um texto único, com uma interpretação convergente. Jesus é mais humano? Mais divino? Humano e divino ao mesmo tempo? Há outras possibilidades, como a compreendida pelos judeus, de que Jesus não era o Messias, ou a de alguns estudiosos sérios, que asseguram a não existência histórica de Jesus.

            A discussão não tem fim, malgrado a inadmissibilidade para o mundo cristão e a irrelevância para outros mundos.

            Ainda sobre a Bíblia, a edição evangélica, por exemplo, soma 66 livros, 1.189 capítulos e 31.103 versículos. Esses números são diferentes das demais bíblias. Se a versão primeira foi ditada por Deus, quem autorizou a supressão de 12 livros em relação à bíblia ortodoxa (mais antiga, mais próxima da origem)? Os textos suprimidos não se configuram uma afronta ao seu autor (que era bastante irado no princípio)?

            Por que os pregadores escolhem certos versículos e evitam outros? Por um lado, a fé é superestimada num contexto imaginário de adoração extrema. Por outro, nenhuma referência à obra coerente com os preceitos bíblicos.

            No dia a dia, fora do templo, a vida de muitos cristãos é de uma indisfarçável hipocrisia. Basta apenas o versículo 24, capítulo sexto de Mateus, para escancarar a contradição: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.

            Obviamente, esse versículo nunca é citado pelos astutos propaladores da palavra. Ele nega frontalmente a doutrina da prosperidade, nega a conduta real da maioria cristã, ávida por dinheiro.

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