As histórias de ilha me encantam desde menino, quando li uma adaptação de Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. A literatura foi e continua sendo um caminho para meu espírito aventureiro.
Limitado pelo rio (norte e oeste), pela Serra (sul) e pelos coxilhões (leste), o Rincão dos Machado representa uma ilha, onde estabeleço um distanciamento voluntário.
De tempo em tempo, necessito do sossego do rincão,
nem que seja para ouvir o vento ou o silêncio e ver o céu azul das manhãs ou
estrelado das noites limpas.
Hoje contemplo a faixa de mar que separa a ilha do
continente. As vagas se desfazem em espumas na areia ou chicoteiam os rochedos
nos extremos da praia.
Esta é a terceira vez que venho à Ilha do Mel, em
sua parte mais conhecida como Encantadas. O topônimo é derivado de uma lenda,
mas expressa uma sensação real como um prazer indescritível de se estar fora do
redemoinho incômodo da vida pós-moderna.
Na ilha, o distanciamento é visual, na medida em
que o continente está lá, separado por milhas de água. O distanciamento também
é auditivo, na medida em que a algaravia da cidade grande é silenciada pelo
marulho das ondas.
Os dois sentidos acima, todavia, não determinam o
que a insularidade oferece de melhor: a tranquilidade (estado isento de
agitações, inquietações ou perturbações).
A literatura criou ilhas, para que o homem pudesse se aventurar utopicamente. Em sua criação, ela imitou a realidade, a seguir os passos de Safo, a poetisa grega que compunha para lira na ilha de Lesbos. A pintura se isolou no Taiti com Paul Gaugin, para se libertar da França civilizada. A ciência fez sua maior descoberta nas ilhas de Galápagos com Charles Darwin, longe do glamour da Inglaterra vitoriana.
A Ilha do Mel poderá se transformar em literatura, em poesia. Antes que isso aconteça, ela é real, lugar onde é possível um modo de existência simples.
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