Alana me sugere o tema mais perturbador
entre os demais: a morte. A jovem me diz que tem refletido muito nos últimos
dias, ante a perda de pessoa próxima para a pandemia. Nunca estamos preparados
para “algo que é natural”, no entendimento correto da minha colega de
filosofia.
Três aspectos em relação à morte exigem
uma distinção: a morte como experiência de cada um com seu ente querido; a
morte como horizonte inexorável, fonte de angústia profunda; e, por último, a
morte como catástrofe física e psicológica. A angústia, cujo âmbito é a
consciência, regride para o instintual, que Freud chamou de Thanatos.
Sobre o primeiro aspecto, a perda do
pai, da mãe, do irmão ou do filho não encontra consolo nas palavras, tampouco é
mitigada pela crença em uma vida-além. Quem está de fora não consegue empatizar
com o outro, que se encontra preso ao círculo de sofrimento. Em tempo de
pandemia, esse círculo ocorre com uma frequência nunca vivenciada anteriormente
– o que poderá diminuir seu conteúdo de dor. Ademais, a vida continua com seus
desejos, suas vontades, suas razões.
O segundo aspecto está relacionado à
condição do ser único que sabe de sua finitude: o homem. A morte pertence a sua
existência, tem um sentido para ele (na contramão de tudo mais), que é
autopreservação, autorrealização, Eros.
A terceira consideração me remete à
morte como um espectro antes de sua aparição. A morte ainda não chegou, malgrado
o prazo a todos, a exemplo do protagonista do filme O sétimo selo (de
Ingmar Bergman). Essa espera gera medo, pavor e doença, males que têm na fé e na
razão meros paliativos.
As três abordagens acima não esgotam o
tema, uma análise demorada exigida pelo tema. Resumo-as pelo viés da relação
social (afetiva), da consciência existencial e da patologia. Assim mesmo,
espero ter tocado em alguns pontos axiais desse assunto delicado e (repito)
perturbador.
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