quarta-feira, 14 de abril de 2021

SOBRE A MORTE

 

         Alana me sugere o tema mais perturbador entre os demais: a morte. A jovem me diz que tem refletido muito nos últimos dias, ante a perda de pessoa próxima para a pandemia. Nunca estamos preparados para “algo que é natural”, no entendimento correto da minha colega de filosofia.

         Três aspectos em relação à morte exigem uma distinção: a morte como experiência de cada um com seu ente querido; a morte como horizonte inexorável, fonte de angústia profunda; e, por último, a morte como catástrofe física e psicológica. A angústia, cujo âmbito é a consciência, regride para o instintual, que Freud chamou de Thanatos.

         Sobre o primeiro aspecto, a perda do pai, da mãe, do irmão ou do filho não encontra consolo nas palavras, tampouco é mitigada pela crença em uma vida-além. Quem está de fora não consegue empatizar com o outro, que se encontra preso ao círculo de sofrimento. Em tempo de pandemia, esse círculo ocorre com uma frequência nunca vivenciada anteriormente – o que poderá diminuir seu conteúdo de dor. Ademais, a vida continua com seus desejos, suas vontades, suas razões.

         O segundo aspecto está relacionado à condição do ser único que sabe de sua finitude: o homem. A morte pertence a sua existência, tem um sentido para ele (na contramão de tudo mais), que é autopreservação, autorrealização, Eros.

         A terceira consideração me remete à morte como um espectro antes de sua aparição. A morte ainda não chegou, malgrado o prazo a todos, a exemplo do protagonista do filme O sétimo selo (de Ingmar Bergman). Essa espera gera medo, pavor e doença, males que têm na fé e na razão meros paliativos.

         As três abordagens acima não esgotam o tema, uma análise demorada exigida pelo tema. Resumo-as pelo viés da relação social (afetiva), da consciência existencial e da patologia. Assim mesmo, espero ter tocado em alguns pontos axiais desse assunto delicado e (repito) perturbador.

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