As tragédias vêm ocorrendo com uma frequência
assustadora, a exigir de nós uma compreensão melhor (mais racional) de suas
causas principalmente.
A verdade é que não pensamos e não agimos
antes da ocorrência indesejável, desde os acidentes domésticos, menos
traumáticos, aos extranormais, com impacto generalizado. A posteriori, somos
bastante solidários, sentimentais e reflexivos. No velório de um parente ou
amigo, mais que chorar, tornamo-nos filósofos sui generis.
A vida (não a morte) e o ser (não o nada), ao
mesmo tempo em se vive e se é, devem suscitar em nós a reflexão
autocontemplativa, a fim de fazê-los motivos de felicidade. Esta não se
encontra noutro lugar e noutro tempo, exceto onde estamos no presente.
Antes de sofrermos a dor resultante de uma
tragédia, infelizmente, vivemos como de uma forma inconsciente, irracional
(para não dizer alienada). A moral da imprevidência é sala de espera para
pequenas e grandes catástrofes.
No Valle Nevado, no Chile, há uma estação de
esqui, hotéis, lojas, restaurantes e milhares de turistas. Nenhuma cabeça ali
tem consciência sequer de onde pisa a mais de três mil metros de altura. A
probabilidade de terremotos em toda a Cordilheira dos Andes e proximidades
(como Mendoza, 1861) é muito grande.
Noutro vale, por onde serpeia o Córrego do
Feijão, no município de Brumadinho (MG), há refeitório, pousada, residências e
redis. Ninguém ali desconfia que a barragem um pouco acima pode(rá) romper-se a
qualquer hora.
O terremoto no Valle Nevado e o rompimento da
barragem em Brumadinho ocorrerão mais ou menos anos, séculos ou milênios. Por
não pensarmos nessas e noutras possibilidades, deixamos de criar defesas,
planos de fuga, desocupações indispensáveis para evitar ou mitigar o sofrimento
com a tragédia anunciada.
A propósito, trágico, segundo a etimologia
grega, refere-se ao que humanamente inevitável, geralmente atribuído à natureza
ou aos deuses. Um terremoto nos Andes é inevitável, não o é a construção de
hotéis dentro de uma região com risco muito maior. O rompimento de uma
barragem, ao contrário do exemplo anterior, é evitável.
Doravante, as catástrofes nos forçam a
pensar, a prever e a agir para evitá-las dentro do possível.
A experiência e o conhecimento nos tornam
responsáveis por nossos pensamentos e ações, como usar uma barragem para
depósito de rejeitos minerais, como fazer convescote logo abaixo dela. A
ignorância, em contrapartida, torna-nos vítimas em potencial, a partir de tal
condição reivindicamos direitos e pedimos por justiça.
Froilam de Oliveira
XXX-I-XVIX
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