O
homem contemporâneo, a exemplo de seus ascendentes antigos, medievais e
modernos, continua a temer a morte. Nesse aspecto, ele ainda pode personificar
Sísifo – malgrado saber que o alongamento provisório de sua vida se fará com
mais cansaços e aflições.
Toda tecnologia na área da medicina
evolui com o propósito de prender Thanatus em algemas (cada vez mais seguras).
No manuseio de ferramentas avançadas, o homem crê, pensa e age ainda motivado
pelo mito de sua própria imortalidade, lembrado por Freud no ensaio A nossa atitude diante da morte (1915).
Na empresa bilionária para alcançar
a longevidade neste mundo, desponta um megaprojeto, o Google Baseline Study, que pretende desenvolver a “saúde perfeita”.
Segundo Harari,
se dermos ao Google e seus
competidores acesso livre a nossos dispositivos biométricos, às varreduras de
nosso DNA e a nossos registros médicos, vamos obter daí um serviço médico e de
saúde onisciente, que não só combaterá epidemias, como nos blindará contra o
câncer, ataques cardíacos e o Alzheimer (p. 338).
Com base no desenvolvimento
exponencial de novas tecnologias (e na produção de algoritmos específicos), o
professor da Universidade Hebraica de Jerusalém adianta que futuramente,
incorporaremos “uma legião de dispositivos biométricos, órgãos biônicos e
nanorrobôs, que vão monitorar nossa saúde e nos defender de infecções, doenças
e danos”.
Neste mundo que se torna cada vez
mais no melhor dos mundos possíveis, na medida em que o processo de
secularização demonstra ser único, a morte se apresenta em toda sua potência
trágica. Ela retarda um pouco sua vinda, todavia, não se deixa enganar por
algum estratagema humano.
Com a desmitificação da vida, o
homem perde a capacidade de ludibriar a visitante indesejada – uma tentativa
realimentada pelo mito que subsiste ainda. Os deuses, tampouco, ouvirão suas
súplicas, uma vez que, diferentes da morte inexorável, já não existem mais.
O peso dessas verdades constitui o
castigo autoimposto pelo homem secularizado, uma imanência que o faz mais
heroico e trágico do que Sísifo.
HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do
amanhã; tradução Paulo Geiser. 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2016,
pp. 338 e 347.
Disponível em
https://www.skoob.com.br/livro/pdf/os-mitos-gregos/livro:739805/edicao:742479. Acesso em 19 de
fevereiro de 2019.
Disponível em https://www.companiadasletras.com.br/trechos/12900.pdf. Acesso em: 19 de
fevereiro de 2019.
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