Uma
matéria publicada no último número da Superinteressante
sobre a ansiedade vem ao encontro da análise que tenho feito das redes sociais,
mais precisamente do Facebook. Ao postar “As pessoas que não vão à praia também
são felizes”, resumi dois quadros que se pintam nestes dias (ainda não
contemplados pelos sociólogos de plantão).
Ao
ver a foto de alguém diante do mar azul, verde (ou marrom), com a legenda
“Gratidão!” no limite do enigmático, sou levado a pensar nas ações ou afasias
representadas no quadro que é visto e no que é subentendido.
Para
descrevê-los, apoio-me em excertos da matéria referida acima. Em relação ao
primeiro quadro
“As redes sociais
permitem reconstruir, ainda que virtualmente, o tipo de comunidade antiga onde
todos conheciam uns aos outros”, afirma o antropólogo (Robin Dunbar). Mas essa
reprodução não é perfeita: o convívio nas redes sociais não tem a
sincronicidade de uma mesa de bar... Além disso, as redes alimentam mais uma
fonte de ansiedade da vida contemporânea: excesso de escolhas.
O autor da
matéria acerta com todas as palavras:
Em tese, mais escolhas
significam mais liberdade, e mais liberdade eleva o bem-estar. Mas não foi isso
o que psicólogo americano Barry Schwartz descobriu em seus estudos. “Ela (a
capacidade de escolha) provoca paralisia, em vez de liberdade”... Com tantas
opções, fica difícil decidir – o que gera ansiedade.
O
problema transcende a responsabilidade da escolha, que se desestrutura com a
projeção das escolhas preteridas, talvez mais exitosas, com possibilidades mil.
Para passar a limpo essa dúvida, as pessoas exaltam exponencialmente suas
escolhas com atualizações diárias no Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp...
Quanto
ao segundo quadro, composto por aqueles que não conseguem ostentar a felicidade
de suas opções de vida, a matéria também traz algumas pérolas:
Por um lado, isso é
bacana. Ficamos sabendo que pessoas de quem gostamos estão vivendo bem. Por
outro, isso traz desconforto: cadê você na foto? Será que você está
aproveitando sua vida tão bem quanto os seus amigos? Com as redes sociais, o
medo de ficar de fora ficou tão comum que até recebeu uma sigla: “FoMO”, de fear of missing out... Sentimos remorso,
como se a felicidade alheia fosse nossa miséria.
De
acordo com o autor, as redes sociais gerariam ansiedade, porque mostram toda
hora o que você está perdendo. À exceção do YouTube, outras plataformas têm
impacto negativo sobre horas de sono, solidão, bullying, FoMO, ansiedade e depressão.
Para
minorar esse efeito indesejável (causado pela exposição exacerbada de
felicidade), foi que postei no dia 8 de fevereiro de 2019: “Quem não vai à
praia também é feliz”. Lamentavelmente, a postagem provocou reações adversas de
alguns usuários que se encontravam na praia.
HORTA,
Mauricio. A epidemia da ansiedade;
Superinteressante; ed. 399, pp. 22-33 fevereiro, 2019.
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