Dois artigos publicados no Zero Hora de domingo passado me chamaram a atenção: Meio ambiente e agronegócio, de Francisco Turra; e A arte da ilusão, de Flávio Tavares. Na condição de leitor crítico, senti a necessidade de contrapor ao primeiro e endossar a opinião do segundo. Turra escreve: “É um equívoco caracterizar como antagônica a relação entre meio ambiente e produção agrícola”. Pelo contrário, é um acerto dizer que a agricultura agride o meio ambiente. Há dez mil anos, o homem corta as matas ciliares, queima o excedente, entulha e envenena os rios, provocando o desequilíbrio e o empobrecimento de diversos biomas. A prática exaustiva desencadeia a desertificação. Necessária para a sobrevivência humana, a exploração da terra passou a servir ao enriquecimento de alguns. Em Arte da ilusão, Flávio Tavares entra na grande discussão estética em torno da “arte conceitual” em Porto Alegre. O articulista visita a Bienal do Mercosul nos armazéns do cais e chama de extravagâncias o que vê ali, concordando com o grande pintor gaúcho Iberê Camargo, que abominava as “instalações” (objetos estranhos à arte dispostos de uma forma mais ou menos organizada no centro, num canto, na parede ou no teto de uma sala). O argumento de Iberê, citado por Tavares, diz respeito a pouca duração dessas “instalações”, cujos autores querem passar por arte. Ao contrário dos quadros de Anita Malfatti, que traziam a novidade cubista e expressionista, para desconhecimento do sempre acadêmico Monteiro Lobato, precipitado algoz da pintora, as instalações, mesmo que adiantem uma tendência futura, são feias e antiestéticas.
Esse texto destina-se à coluna do Expresso Ilustrado, por isso as lacuna, algo que pede mais algumas palavrinhas. O diretor de redação do jornal ainda acha que deve diminuir ainda mais. Sua tese (com respaldo empírico, em se tratando do EI) é de que poucos leem os textos longos. Nestes seis anos, aprendi a frear meu ímpeto discursivo. Cedo entendi que o espaço na página é um "leito de Procusto". Caso a ultrapasse, sou devidamente cortado; caso não a preencha, suficientemente esticado. A ferramenta usada para tal adequação é o pagemaker.
Houvesse mais espaço, eu acrescentaria que a prática agrícola visando à sobrevivência, desde o começo do neolítico aos nossos dias, sempre agrediu o meio ambiente. Sem o alimento provindo das colheitas sazonais, todavia, a espécie humana não teria sobrevivido (ou crescido tanto em 10.000 anos).
Houvesse mais espaço, eu acrescentaria que é perigoso tomarmos posição contrária às novas expressões artísticas. Não podemos nos esquecer do que ocorreu com Monteiro Lobato na aurora do movimento modernista. Anita Malfatti, regressando da Europa com as novidades pós-impressionistas (cubistas e expressionistas), realizou uma exposição em 1917. Monteiro Lobato pegou pesado contra a pintora num artigo intitulado "Paranóia ou Mistificação?". Flávio Tavares, apoiando Voltaire Schilling (que começou uma ampla discussão com o artigo A capital das monstruosidades), teve a coragem de atacar o que chama de "a arte da ilusão". A propósito, o articulista assim inicia seu ataque: "A mistificação está em todos os lugares...".
Junto-me a eles, com a lamentada ausência de Iberê Camargo, para vaticinar que a estética do feio não fará escola. As tais "instalações", que os museus de arte moderna estão cheios, não passam de uma ilusória prerrogativa da modernidade. Elas preenchem um vazio criativo do tempo presente. A dúvida é se são provisórias ou escatológicas (retificando o final da minha coluna para o Expresso).
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