segunda-feira, 2 de novembro de 2009

SEM NOÇÃO

As pessoas intelectualmente evoluídas que conheço e que as ouço falar, direta ou indiretamente, têm uma noção imprecisa do tempo. O viés com que consideram o que passou é condicionado pela própria experiência de vida, o que transforma mil, um milhão, um bilhão de anos em meros momentos, irrelevantes diante do século, do ano e do dia presentes. Dou dois exemplos: a extinção dos dinossauros e a invenção da escrita. A teoria mais aceita para o desaparecimento dos dinos é a da queda de um meteoro em nosso planeta há 65 milhões de anos. Percebo que muitos não conseguem ver diferença significativa entre 65 mil, 65 milhões ou 65 bilhões (extrapolando a idade do universo). A propósito, na Inglaterra, há uma crença na Terra-nova, defendida por criacionistas radicais e cientistas (inclusive). Para eles, o mundo teria 10 mil anos. Outra coisa que desconhecem diz respeito à duração que o planeta levaria para se recuperar do impacto acima citado: 5 a 6 milhões. Tempo equivalente a toda evolução de nossa espécie, dos primeiros hominídeos ao homo sapiens sapiens. O segundo exemplo, como já citado acima, refere-se à descoberta da escrita. Não obstante a prova arqueológica apontar para a Mesopotâmia (lugar), há 5.500 anos (tempo), coisa que os livros e professores de História são categóricos em repetir, os alunos não fazem ideia do longo processo que vai da escrita cuneiforme ao alfabeto grego (que sofreria alterações posteriores). Ninguém perguntou quanto tempo (anos, séculos ou milênios) os sumérios levaram praticando a escrita do achado arqueológico.

(Esboço para a coluna do Expresso Ilustrado.)

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