Como sei que sei? Quando o que penso, falo ou escrevo, antes de ter lido ou ouvido de outro sujeito (no sentido bakhtiniano) que sabe, acabo lendo ou ouvindo desse mesmo sujeito depois. Um exemplo disso transcrevo abaixo.
Hoje recebi o livro Evolução, de Richard Dawkins, que era a causa da minha expectativa (registrada em postagem anterior). Pois bem, na primeira página, p. 17, Dawkins escreve:
"[...] A segunda tentação do historiador é a soberba do presente: achar que o passado teve por objetivo o tempo atual, como se os personagens do enredo da história não tivessem nada melhor a fazer da vida do que prenunciar-nos".
Mais uma vez, cito o texto que publiquei no Expresso Ilustrado, edição de 6 de novembro de 2009:
As pessoas intelectualmente evoluídas que conheço e que as ouço falar, direta ou indiretamente, têm uma noção imprecisa do tempo. O viés com que consideram o que passou é condicionado pela própria experiência de vida, o que transforma mil, um milhão, um bilhão de anos em meros momentos, irrelevantes diante do século, do ano e do dia presentes.
Na última edição do EI, o artigo Bárbaros ou civilizados?, também questiona essa tendência de culpabilizar o passado por toda hediondez ou crueldade cometidas nestes dias. (A propósito, o palestrante que me motivou a escrever o texto é doutor em História.) O preconceito, que Dawkins chama de "soberba", consiste em achar que a civilização é o suprassumo da evolução sociocultural e que o passado (como postei abaixo, sobre a arte do paleolítico e do neolítico) não passa de rascunho, andaime, seja lá o que for.
Um comentário:
O passado nada quer dizer para o presente.
O presente é que quer extrair dele conselhos para não cometer o mesmo. Ou para cometê-lo em maior estilo e glória.
E há quem tome feitos faça proveitos seja em vida apenas para deixá-la e entrar na história. De Aquiles a Getúlio, a pretensão de imortalidade pela história permanece... Isso não é o passado querendo dizer-se?
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