domingo, 26 de agosto de 2007

UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO (E A DOR)

Ainda não se inventou um relógio para marcar o tempo interior, o tempo psicológico. Certamente, seu mecanismo não obedeceria a Cronos, mas às vivências mais expressivas da pessoa que o utilizasse. Ele aceleraria nos momentos de intenso prazer e retardaria ante a dor intensa. Nos extremos de sua aceleração ou de seu retardo, o(s) ponteiro(s) repousaria(m) num espaço em branco. Sem o conhecimento empírico, ninguém pode afirmar que a cessação de tempo e a morte sejam a mesma coisa. Aprioristicamente, sim. Entre quinta e sexta passadas, vivi as horas mais longas e dolorosas de que tenho lembrança. Um foco inflamatório na articulação femural me levou ao HGuSt, onde fiquei baixado até às 18 horas de sábado. No paroxismo da dor, enquanto esperava e esperava o efeito da medicação, tive a impressão de que o tempo não passava. Ou melhor, enganava-me com a impressão de que o tempo seguia seu fluxo normal. Todas as vezes que procurei saber as horas, o erro me fazia pensar no quanto a dor interfere no ritmo biológico. Na sexta-feira, a luta era para me restabelecer, conseguir me movimentar sobre a cama. No sábado, um pouco melhor, fiquei dividido entre dar alta imediatamente e atravessar o fim de semana no hospital. Depois da dor realmente sofrida, percebi que a solidão é algo terrível. As visitas vêm acelerar o tempo que se arrasta incomodamente. Outro aspecto sobre o tempo psicológico constitui um paradoxo: o tempo demora a passar (?), mas envelhece aquele que o vivencia através do sofrimento.

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