A NOVA PAIXÃO - Por que tememos e detestamos um possível retorno à barbárie? Por que tornaria os homens mais infelizes do que o que são? De modo algum! Em todas as épocas os bárbaros foram mais felizes: Não nos iludamos! - Mas o nosso instinto de conhecimento é demasiado poderoso para que possamos ainda apreciar uma felicidade sem conhecimento, ou a felicidade de uma ilusão forte e sólida; sofremos com a simples idéia de um tal estado! A inquietação da descoberta, da solução encontrada, tornou-se para nós tão sedutora e tão indispensável como para o amante, o seu amor infeliz que nunca trocaria por um estado de indiferença; - talvez, sejamos, à nossa maneira, amantes infelizes! Em nós, o conhecimento transformou-se numa paixão que não teme nenhum sacrifício, nem receia no fundo seja o que for, exceto a sua extinção; acreditamos sinceramente que toda a humanidade, submetida à opressão e às dores desta paixão, deveria sentir-se mais nobre e mais confiante do que antes, quando não tinha ainda ultrapassado o desejo desse bem-estar grosseiro que acompanha a barbárie. Talvez até a humanidade corra perigo devido a essa paixão de conhecimento! - mas tal pensamento também não tem qualquer poder sobre nós! [...] Sim, detestamos a barbárie, - preferimos a destruição de toda a humanidade à regressão do conhecimento! E no fim de contas: se a humanidade não corre perigo por causa de uma paixão, corrê-lo-á devido a uma fraqueza: que preferimos? É a questão essencial. Desejamos-lhe o fim no fogo e na luz, ou na escuridão?
(Frafmento 427, do livro Aurora, de F. Nietzsche)
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