quinta-feira, 23 de agosto de 2007
MOMENTO POÉTICO
Tempo e lugar, muitas vezes, bastam para despertar em mim aquilo que, em poesia, denomina-se de inspiração. Quando servi no Pantanal, na distante localidade de Coimbra, me lembro de que entre 5 e 6 horas da manhã, recostado às muralhas do forte, no alto do morro, a inspiração transcendia minha capacidade de expressão verbal. Queria escrever algo, mas não encontrava as palavras certas. Então, me quedava contemplativo, com uma sensação indescritível. Isso me acontecia no cumprimento da escala de Auxiliar do Fiscal de Dia. Às 5 horas, fazia a ronda obrigatória. Depois de ir ao paiol, atravessar a vila, percorrendo todos os postos de sentinela, me dirigia ao Forte. Exausto com a caminhada, me sentava rente à muralha, com os olhos fitos na curva do rio Paraguai, ao nascente. Do outro lado do rio, à direita, o Morro da Marinha era uma sombra que melhor definia as luzes do amanhecer. Tudo mais era uma vastidão plana que me fazia sonhar. De repente, o dilúculo. Os tons amarelos, róseos e avermelhados indicavam o momento mais significativo para minha alma. O Sol não demorava a mostrar o ouro de sua configuração esférica. Para o outro lado, onde o horizonte separava Brasil e Bolívia, o azul-noite ainda circundava a Lua já sem nenhuma chance de clarear as águas do rio.
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