quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

REDES SOCIAIS E ANSIEDADE



   Uma matéria publicada no último número da Superinteressante sobre a ansiedade vem ao encontro da análise que tenho feito das redes sociais, mais precisamente do Facebook. Ao postar “As pessoas que não vão à praia também são felizes”, resumi dois quadros que se pintam nestes dias (ainda não contemplados pelos sociólogos de plantão).
               Ao ver a foto de alguém diante do mar azul, verde (ou marrom), com a legenda “Gratidão!” no limite do enigmático, sou levado a pensar nas ações ou afasias representadas no quadro que é visto e no que é subentendido.
                 Para descrevê-los, apoio-me em excertos da matéria referida acima. Em relação ao primeiro quadro

“As redes sociais permitem reconstruir, ainda que virtualmente, o tipo de comunidade antiga onde todos conheciam uns aos outros”, afirma o antropólogo (Robin Dunbar). Mas essa reprodução não é perfeita: o convívio nas redes sociais não tem a sincronicidade de uma mesa de bar... Além disso, as redes alimentam mais uma fonte de ansiedade da vida contemporânea: excesso de escolhas.

                 O autor da matéria acerta com todas as palavras:

Em tese, mais escolhas significam mais liberdade, e mais liberdade eleva o bem-estar. Mas não foi isso o que psicólogo americano Barry Schwartz descobriu em seus estudos. “Ela (a capacidade de escolha) provoca paralisia, em vez de liberdade”... Com tantas opções, fica difícil decidir – o que gera ansiedade.

               O problema transcende a responsabilidade da escolha, que se desestrutura com a projeção das escolhas preteridas, talvez mais exitosas, com possibilidades mil. Para passar a limpo essa dúvida, as pessoas exaltam exponencialmente suas escolhas com atualizações diárias no Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp...
    Quanto ao segundo quadro, composto por aqueles que não conseguem ostentar a felicidade de suas opções de vida, a matéria também traz algumas pérolas:

Por um lado, isso é bacana. Ficamos sabendo que pessoas de quem gostamos estão vivendo bem. Por outro, isso traz desconforto: cadê você na foto? Será que você está aproveitando sua vida tão bem quanto os seus amigos? Com as redes sociais, o medo de ficar de fora ficou tão comum que até recebeu uma sigla: “FoMO”, de fear of missing out... Sentimos remorso, como se a felicidade alheia fosse nossa miséria.

                  De acordo com o autor, as redes sociais gerariam ansiedade, porque mostram toda hora o que você está perdendo. À exceção do YouTube, outras plataformas têm impacto negativo sobre horas de sono, solidão, bullying, FoMO, ansiedade e depressão.
                  Para minorar esse efeito indesejável (causado pela exposição exacerbada de felicidade), foi que postei no dia 8 de fevereiro de 2019: “Quem não vai à praia também é feliz”. Lamentavelmente, a postagem provocou reações adversas de alguns usuários que se encontravam na praia.


HORTA, Mauricio. A epidemia da ansiedade; Superinteressante; ed. 399, pp. 22-33 fevereiro, 2019.

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