segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

MEMES MEDIEVAIS

Fim de tarde muito quente em São Luiz Gonzaga. 
O cenário na praça central e seu entorno está para confirmar uma ideia que venho desenvolvendo sobre a sociedade desta região (não diferente de outros lugares do nosso Estado, do país, da América Latina). 
Aqui ainda não se vive a evolução cultural oferecida pelo Iluminismo há mais de dois séculos. Esta sociedade continua mais próxima da Idade Média do que da modernidade, não obstante as mudanças de paradigma, fundamentadas no conhecimento científico e filosófico elaborados desde o Renascimento. 
Ao chegar a São Luiz, deparo-me com a Feira do Livro às moscas e uma megaestrutura sendo preparada para o show de abertura do mês natalino na cidade. 
Em duas horas, não vejo um único visitante procurar por um livro em qualquer uma das livrarias, repetindo-se o que ocorrera nos dias anteriores, segundo o testemunho dos livreiros. As queixas destes têm um destinatário certo: os organizadores (gente da Prefeitura). 
Patrocinada pela Endesa Cien, empresa fornecedora de energia elétrica, a feira não têm a atenção merecida, tanto das autoridades municipais quanto do público. Um fracasso completo, que pode ser sintetizado a uma história triste. Mãe e filha passam em frente à Magia das Letras. A menina corre e apanha um livro infantil, cujo preço era de dez reais. A mãe chama-lhe a atenção: “Solta essa porcaria!”. 
Concluo que o desprestígio do livro, ou dito com outras palavras, a falta de leitura, reflete o modus vivendi que não inclui a razão como instrumento de construção social, ou a inclui apenas como poder de racionalizar as próprias crenças (cristãs). O estado laico é uma coisa não compreendida e não aceita pela sociedade, ainda dominada pelos memes medievais.    

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