Desde
que me tornei um leitor, tenho feito a pergunta do título acima.
Obviamente, já cheguei a uma resposta, caso contrário, teria sido
inútil meu tempo dedicado aos livros, um fracasso. Por que continuo
a perguntar, então? A evolução intelectual me propiciou um
acréscimo à condição de simples leitor, o de pensar e produzir
textualmente. Esta minha atitude responsiva ativa, de autoinclusão
como sujeito da enunciação, constitui o melhor resultado dos longos
anos de leitura. Respondida a questão de foro íntimo, não posso
apenas usufruir do êxito pessoal, sem envolver o outro. Neste
aspecto, identifico-me com aquele que se liberta na alegoria de
Platão, embebe-se na luz e retorna ao interior da caverna com a
intenção de livrar os ex-companheiros ainda acorrentados pela
ignorância. A pergunta é feita para eles: por que ler? A priori, a
resposta aponta para duas generalizações: prazer e conhecimento. A
leitura de entretenimento, a despeito de propiciar um quantum de
felicidade imediata ao seu praticante, não o liberta da
irracionalidade, do âmbito onde vicejam os preconceitos, as ilusões.
Aqui parafraseio F. Nietzsche, fragmento 427, do livro Aurora: minha inclinação para o conhecimento é demasiado
evidente para que possa ainda apreciar uma felicidade sem
conhecimento. Cedo ou tarde, o leitor há de compreender essa
verdade. Ele não precisa evitar a fruição de uma leitura menos
densa, caracterizada pelo emocional (suspense, poesia, anedota etc.).
Há livros científicos, filosóficos e (inclusive) literários que
se equivalem a um curso superior. Três exemplos, respectivamente: O
macaco nu, de Desmond Morris; A lógica da pesquisa
científica, de Karl Popper; e O nome da Rosa, de Umberto
Eco. Fundamental é a associação que o leitor experiente passa a
fazer entre as diversas áreas do conhecimento.
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