Um dos memes que ainda exerce pressão sobre o comportamento do homem ocidental foi gerado pela cultura judaico-cristã. Como imagem e semelhança do deus muitíssimo bondoso que o criou, ele necessita provar continuamente essa origem divina. Não o consegue, todavia, em quase todos os momentos de sua vida.
À exceção dos ascetas e santos, cada vez mais raros, o mal se sobressai nas pulsões mais profundas da natureza humana, cujos assomos são incontroláveis pela razão.
A sociedade, constituída por centenas, milhares ou milhões de indivíduos, apresenta destes as mesmas características (elevadas à quinta potência).
O exemplo da droga é oportuno para ilustrar o que é acima expresso. Os arautos midiáticos da nossa sociedade são unânimes em propalar que a droga é um dos grandes problemas atuais, passando-se a ideia de que não há solução exequível. O mal, bastante conhecido nas grandes cidades, hoje se alastra por todos os ambientes sociais. Inclusive no campo, onde não imaginava chegar a droga as cabeças mais ingênuas e saudáveis.
A droga não está na genealogia do verdadeiro problema, não é causa, mas consequência de um desequilíbrio, de um desajuste no homem. O drogado representa a causa primeira, que leva à existência do fornecedor, do traficante, do comércio ilícito e violento.
Não cito aqui (como argumento de autoridade) o genial Thomas Szasz, antipsiquiatra húngaro. Basta lembrar o discurso de Pablo Escobar, que jogou a verdade na cara da nossa civilização. Para ele, a gigantesca demanda norte-americana forçava o envio da droga por avião, submarino, ou "mula".
Em Santiago, falta traficante (considerando-se a demanda, que servia de justificativa para o chefe de cartel colombiano). Muitos santiaguenses, mais do que pode apurar a estatística, são usuários de droga.
Cabe a classificação de "doença" à dependência desses usuários? (Não está mais para fraqueza de caráter, sem-vergonhice?) Mas é forçoso fazê-lo, visando salvaguardar a crença na grandeza do homem, em sua perfectibilidade subjacente.
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