"Como pensar a relação entre o valor e a verdade?
e o valor é verdadeiro, como escapar da religião? Se não é, como escapar do niilismo?
Se a verdade comanda, como escapar do dogmatismo? Se obedece, como escapar da sofística?
Trata-se, aqui, de encontrar outro caminho, seguindo os passos de Diógenes e de Maquiavel, mas também de Montaigne, Pascal e Espinosa. O cínico, no sentido filosófico, é aquele que distingue as ordens: ele não tem ilusões sem sobre a verdade (que não tem valor intrínseco) nem sobre o valor (que não tem verdade objetiva); mas nem por isso renuncia a uma coisa nem à outra. A verdade só vale para quem a ama; o valor só é verdadeiro para quem a ele se submete. É aí que se cruzam o conhecimento e o desejo. É aí que o amor às vezes encontra a verdade que o contém. Daí uma moral, e muito mais. Os cínicos, dizia Montaigne, dão 'extremo preço à virtude'. O cinismo é uma filosofia sem fé nem lei, mas não sem fidelidade nem coragem."
André Comte-Sponville
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